23/05/10

Mugstar " ... Sun, Broken ..."


Ah! Mugstar. Como se sentirão os velhos Lemmy, Nick Turner e restantes sobreviventes desse bando de ciganos cósmicos que dava pelo nome de Hawkwind, quando escutam ( se é que escutam ) esta aguerrida patrulha de “space-rockers” do século XXI? Nostálgicos certamente; orgulhosos dos discípulos, muito provavelmente. E o que cogitarão contemporâneos como White Hills, Sleepy Sun ou Eternal Tapestry? Não é preciso ser-se adivinho para imaginar que entre estes, a meditação mais frequente seja: “temos de pedalar, e muito!”.

Tudo isto porque a banda inglesa, cuja textura sonora pode ser comparável “ao som produzido pela explosão simultânea de 10.000 sóis”, acaba de publicar um novo disco, épico e incontornável.

Exceptuando meia dúzia de “snipers” ninguém se preocupou em dar importância a Mugstar, editado em 2006. Como o panorama não melhorou “… Sun, Broken …” irá pelo mesmo caminho. Lamentável, pois a Supernova que Mugstar aqui desencadeia, está anos luz à frente do que é comum ouvir-se por aí.


A espiral de efeitos electrónicos e o lastro que o órgão Hammond proporcionam na sub-cave do single “Technical knowledge as a weapon” antecipa a abrasiva e hipnótica prestação das guitarras e do baixo. Dir-se-ia que estamos perto do topo (leia-se apocalipse ), mas o disco ainda não passou da primeira faixa. “Ouroboros” arranca em looping, como se não existisse amanhã; porém, quando o tema parece encaminhar-se para um beco sem saída, sofre uma inesperada mutação e a propulsão cósmica do inicio dá lugar a uma “space-trip” quase minimalista.

“Labrador Hatchet” é um raro momento de serenidade. Permite recuperar o fôlego antes que, nos próximos 6 minutos, o riff colossal de “Today is the wrong shape” ( o outro lado do single de lançamento do álbum ), tudo faça para que os tais “10.000 sóis” expludam. “She run away with my medicine”, é outro momento de pausa. Dura apenas até que “Furklansunbo” – um épico psicadélico matizado pelo legado de Guru-Guru e La Dusseldorf -, reabra as hostilidades, tome literalmente conta do espaço e, drone ante drone, quase sem se dar por isso, termine o seu caminho 14 minutos depois.

O disco passou por nós como um cometa. A verdade porém é que, quando se escuta um trabalho tão intenso quanto este, o tempo deixa de existir. Talvez o melhor elogio que se pode fazer a “… Sun, Broken …”…