À semelhança do sucedido com outras bandas californianas como Oxford Circle, New Age, Country Weather ou Spirit & Worm, a história dos Orkustra só recentemente começou a ser contada. Em concreto só a partir das primeiras edições físicas da respectiva música: “The Orkustra” (RD Records, 2005 ) e “Adventures in Experimental Electric Orchestra from San Francisco Psychedelic Underground” ( Mexican Summer, 2009 ).
Os Orkustra nasceram na comunidade artística de Haight-Ashbury / São Francisco em meados de 1966. Dinamizado por Bobby BeauSoleil – um teenager que já havia tocado nos Grass Roots, a primeira banda de Arthur Lee -, o colectivo integrava ainda Terry Wilson, Henry Rasof, Jaime Leopold e David LaFlamme, um violinista anos mais tarde tornado conhecido por liderar os It’s a Beautiful Day.
Entre Outubro de 1966 e Junho do ano seguinte, os Orkustra umas vezes, os Electric Chamber Orkustra outras, percorreram os Coffee Houses e Ballrooms da cidade e ao lado de outros pioneiros como Big Brother, Grateful Dead, Wildflower, Charlatans ou Steve Miller Band, deram vida aos palcos com os seus “Light Shows for the Blind”, como BeauSoleil baptizou as prestações do grupo.
No final de 67, na ausência de feedback positivo do público, agentes e editoras, o grupo debandava e o ex-líder fazia agulha para outros interesses como o teatro e cinema independentes.
Após alguns projectos de bandas sonoras que não o chegaram a ser, BeauSoleil partiu para Los Angeles e aos 20 anos começou a trabalhar como guitarrista “free lancer”. O destino colocou-o na rota de Charles Mason e Dennis Wilson. Este procurava um guitarrista para tocar no álbum que o primeiro tencionava gravar e BeauSoleil preenchia os requisitos.
Como mais tarde a história se encarregaria de contar, a associação com tais personagens só podia dar mau resultado e, algures no decorrer de uma transacção de drogas, o jovem BeauSoleil acabaria por matar um homem. Condenado à morte em 1970, veria a sentença comutada em perpétua dois anos depois. Ainda hoje permanece detido e, com mais ou menos restrições, tem vindo a criar, desenvolver e tocar os seus projectos musicais.
Até à edição da RD Records em 2005, não existiam publicados quaisquer registos áudio dos Orkustra. À data a editora suíça recuperou quatro peças gravadas em estúdio e uma longa jam captada num concerto na St. John’s Cathedral de São Francisco na véspera de Natal de 1966.
A composição e as interpretações musicais eram inovadoras, mesmo para uma época que foi fértil em inovação. A guitarra e o bouzouki eléctricos de BeauSoleil repartiam o protagonismo com o violino de LaFlamme, o oboé, as tablas e percussão. Porém quer para o público beatnik quer para o emergente fenómeno hippie, o psicadelismo do colectivo estava para além do “aceitável”. Possuía carácter tribal, fundia beat com jazz (frequentemente free-jazz), linguagens de leste com ragas indianas e, se o resultado eram os tais “Light Shows for the Blind” ou a chamada “Electric Chamber Music”, ainda hoje é difícil de avaliar.
Já no inicio deste ano, também com a colaboração de BeauSoleil e LaFlamme, a Mexican Summer através do duplo LP “Adventures in Experimental Electric Orchestra from the San Francisco Psychedelic Underground” ( o título é quase perfeito ) publicou aquela que é a versão definitiva do legado dos Orkustra. Além dos temas incluídos na edição de 2005, acrescentou demos e jam sessions que David LaFlamme resgatou aos seus arquivos pessoais.
Embora não sendo rigorosamente essencial, o património musical deste grupo efémero merece ser escutado e colocado em perspectiva. Volvidos 44 anos, muita gente ficará por certo surpreendida com o carácter e a inovação destas prestações.
Toda a história contada por BeauSoleil, aqui.