“Forever changing” foi o lema de Arthur Lee desde o álbum homónimo dos Love (1966) até “Vindicator” (1972). Uma atitude aplaudida em “Da Capo” e “Forever Changes”, depreciada quando a matéria de análise dá pelo nome de “Out here” , “Four sail” ou “False start”.
Na verdade é fácil aderir ao folk-rock pastoral e barroco que Lee ( com a colaboração de Bryan MacLean ) inventou para os primeiros três álbuns que os Love publicaram na Elektra. Mais difícil será encontrar a disponibilidade necessária para entrar no trio subsequente. Requer algum lastro e sobretudo tempo, um bem cada vez mais escasso.
Tempo e senso, pois são demasiado simplistas as análises que, “tout court”, colam o Arthur Lee pós 1969 a Jimi Hendrix. É óbvio que existem muitos pontos de contacto. Mas, dado o percurso dos dois homens , o estranho seria não ser assim.
Lee e Hendrix foram “pals” muito antes de ambos serem conhecidos. A versão de “Hey Joe” que os Love gravaram é anterior à de Hendrix cerca de seis meses. Em 1970 voltaram a encontrar-se em “False start” tendo Jimi co-assinado “The everlasting first”. De acordo com os biógrafos a morte do autor de “Electric Ladyland” terá afectado profundamente Arthur Lee. Com tantos pontos de contacto , é natural existir “um factor Hendrix” na música criada por Lee.
A influência nunca terá estado tão presente como em finais de 1970 quando os Love ( agora Lee, Frank Fayad, Don Poncher e Craig Tarwater ) entraram nos estúdios da Columbia para gravar “Dear you”, o primeiro disco para uma “major”. As coisas porém não correram como se esperava. A Columbia cancelou o contrato e as fitas entretanto gravadas mergulharam nas respectivas caves. Até agora.
“Love lost” recentemente publicado pela Sundazed, recupera aquelas gravações. A sua audição deixa a pairar uma enorme dúvida: até onde poderia ter ido “Dear you” caso o trabalho de criação e produção tivesse sido (bem) concluído?
Parte das canções foram publicadas por Arthur Lee em “Vindicator” e noutros trabalhos posteriores. É no entanto em conjunto que, não obstante algumas imperfeições, fazem todo o sentido. Em boa verdade constituem o elo que liga “Da Capo” a “False start”, o folk-rock californiano ao “hard-rock-blues” .
Canções (algumas em maqueta) esculpidas pela guitarra acústica e torneadas pela voz do autor, entrecortadas por temas eléctricos tornados incandescentes pelas guitarras de Lee e Tarwater . De entre as primeiras “Love jumped through my window” tem subjacente uma grande canção, enquanto “He said she said” possui a verve de Dylan. No que respeita às segundas, a dificuldade reside na escolha. “I can’t find it” poderia ter integrado “Layla & other love stories”; “Product of the times” é suportado por um riff infecto enquanto desliza sobre um magnifico trabalho de guitarra solo; “Good & Evil II” remete para as guerras de Stephen Stills com Neil Young na secção eléctrica de “4 way street”. Por seu lado “Midnight sun” e “Looking glass” parecem clonados de “Electric Ladyland”, enquanto “Trippin & Slippin/Ezy Ryder” não deixa dúvidas pois é de facto co-assinado por Hendrix.
Se o leitor teve a paciência de chegar até aqui, certamente percebeu que para o Atalho a música dos Love não começa em “Da Capo” e termina em “Forever Changes”. “Out here” e “False start” são objecto de muito “airplay” por aqui. A intromissão de “Love lost” neste status só pode ser muito bem vinda.