Os textos que Philippe Garnier publicou na revista Rock & Folk entre 1976 e 1984 contribuíram para mudar a minha vida.
Garnier deixaria o Rock & Folk quando a linha editorial, eventualmente condicionada pela ausência de matéria prima de qualidade, começou a tergiversar. Continuei a segui-lo. No Libération, Les Inrockuptibles e, mais tarde, nos periódicos de Los Angeles. Raramente me desiludiu. São significativas e habitualmente certificado de garantia as traduções que efectuou de obras de escritores como John Fante, James Crumley, Bukowski, James Salter ou Chris Offutt .
Em 2009 Garnier regressou ao nosso léxico. O motivo chamou-se “Freelance, Grover Lewis à Rolling Stone”. Um livro repleto de episódios e histórias deliciosas, no qual presta homenagem ao mentor e amigo Grover Lewis ( 1935 – 1995 ).
Este, uma personagem intensa, complexa e desalinhada, foi jornalista freelancer , actor demasiado fugaz, míope, filho de pais suicidas que em tempos frequentaram o “inner circle” de Bonnie e Clyde, casado aos 19 anos “deixando casamento e filhos para trás como garrafas vazias pelos passeios”. Era originário de Forth Worth, Texas, uma cidade e um estado demasiado acanhados e conservadores para a iconoclastia de um “maverick” como Lewis.
Como frequentador convicto das margens, a sua ligação à Rolling Stone em 1971 surgiu quase naturalmente. À data, o periódico fundado por Jann Wenner, apesar de Altamont, ainda se movimentava no underground, onde se manteve durante mais um par de anos. O abandono de Lewis em 1973 pode nada ter a ver com o facto, mas a especulação é legítima.
Ao longo de 440 páginas “Freelance” narra a história de Lewis e conta suculentos e inenarráveis episódios jornalísticos. Sejam eles acerca de Paul Newman, Lightnin Hopkins, Allman Brothers, Jack Nicholson , Peckinpah, Robert Mitchum ou sobre a sua turbulenta participação no filme “The last picture show” de Peter Bogdanovish .
Porém, como em tudo, nada melhor do que ouvir o autor: