07/12/09

"Forge your own chains, Heavy Psychedelic Ballads and Dirges 1968-1974"


Ao olhar para o passado sem preconceitos e de forma abrangente, “Forge your own chains” acaba por ser uma das mais interessantes e visionárias compilações que o psicadelismo conheceu nos tempos mais recentes.

Ao incluir temas, - muitos deles retirados de edições privadas -, de grupos oriundos ou sediados nos EUA, Canadá, Suécia, Irão, Colômbia, Alemanha, Nigéria, Coreia do Sul ou Tailândia, a colectânea da Now Again correu riscos, embora naturalmente calculados. O resultado global indicia que valeu a pena.

A incorporação de títulos, magníficos de resto, de Damon, D. R. Hooker ou Morly Grey, não surpreende os amadores do psych, antes serve para sublinhar aquilo que de positivo já se sabia dos nomes em causa. Ao contrário, são questionáveis as inclusões dos temas de T. Zchiew & The Johnny, Ana Y Jaime ou do iraniano Kourosh Yaghmaei. Noutro registo, os canadianos Ellison adiantam um “Strawberry Rain” interessante, ainda que para o gosto do Atalho, demasiado devoto da liturgia Beatles.

(Shadrack Chameleon)

A excitação dispara em flecha quando se escuta o “soul psych” dos Sensational Saints ou o funk só aparentemente amador dos East Underground que, com a colorida versão de “Smiling faces sometimes”, quase nos fazem crer que os Temptations estiveram presentes nas live-jam-sessions que deram origem ao duplo “Live Dead”.

Pelo meio surgem: o coreano Shin Jung Hyun com o “inofensivo” sing-along de “Twilight”, o qual rapidamente se transforma num semi-clássico após algumas audições, e os Ofege que nos presenteiam com um “It’s not easy” colheita de 1973, escrito e gravado em Lagos/Nigéria, mas que se tivesse saído de San Francisco ou Liverpool 1967, ninguém teria achado estranho.

A pérola que é “Song of a sinner” coloca os americanos Top Drawer no interior de um triângulo desenhado por Cold Sun-Phantasia-Morgen, apenas e só para não ir mais além. Quanto à inclusão dos Shadrack Chameleon, o mínimo que se pode dizer é que a banda do Midwest contribui com “a peça de antologia”: “Don’t let it get you down” é construída em cima dos caboucos de um órgão e guitarras psych, usa alguns dos ingredientes Neil Young/Buffalo Springfield e fica cautelosamente à porta do progressivo. Como facilmente se percebe, é irresistível.

A terminar, impossível ignorar a energia cósmica que permanece no ar, imediatamente após se terem extinguido as chamas hendrixianas ateadas pelos suecos Baby Grandmothers no tema “Somebody’s calling my name”. De facto, seria difícil encontrar final mais apropriado para uma colectânea que se pode vir a transformar num “case study” e que natural e vivamente se recomenda.