Os últimos 12 meses foram especialmente generosos para os Big Star e para a herança que nos deixaram. A saber: a compilação da Ardent Records “Thank you friends”, a caixa “Keep an eye in the sky”, a reedição dos dois primeiros discos da banda de Memphis e, por fim, a recuperação revista e aumentada de “I am the cosmos”, um trabalho assinado postumamente por Chris Bell.
Um dos paradigmas secretos do “power pop introspectivo” ( se a ideia faz algum sentido ), o conjunto de temas de constitui o único registo a solo do guitarrista, apesar de gravado entre 1973 e 1975, só foi publicado em 1992, 14 anos após um acidente de viação ocorrido em Dezembro de 1978 e que prematuramente tiraria a vida ao autor.
De facto, Chris Bell, uma personagem conturbada e insegura, não chegou a ter propriamente uma carreira. Depois de abandonar os Big Star em 1972, logo após o insucesso comercial de “#1 Record”, experimentou uma vivência algo nómada sendo que, de quando em vez o “phatos” criativo conduzia-o ao estúdio ( Memphis, Paris, Londres, Itália) para gravar. “I am the cosmos” reflecte essa realidade, apesar de um indisfarçável fio condutor: a desoladora beleza das canções.
Escutar pela primeira vez o tema “I am the cosmos” representa uma experiência única. Significa quase sempre a identificação de uma faceta interior (porventura incómoda) que cada um procura esconder; independentemente do tempo e do espaço – em 1978 quando o single foi editado, em 1992 quando integrou o álbum ou agora com a respectiva reedição -, a canção, uma das mais desoladas e tristes de que me recordo, é sempre uma revelação.
Porém, a seu lado existem outras pérolas: filigranas acústicos como “Speed of sound”, “You and your sister” ou “Look up”, rocks como “Get away” ou “I got kinda lost”, bem como alguns daqueles invólucros melódicos que fazem as delícias dos apreciadores dos Beatles.
Dividido entre as vertentes estética, vizinha de “#1 Record” ou “Radio City” e temática, que compara com “Pink Moon”, “Bill Fay” ou “Tonight’s the night”, “I am the cosmos” é uma obra que ontem como hoje não deve ser negligenciada.
Relativamente ao original de 1992, a Rhino acrescenta um segundo CD que inclui títulos gravados por Bell com os Icewater e Rock City, além de um conjunto de versões e misturas alternativas.