12/07/09

Assemble Head in Sunburst Sound "When sweet sleep returned"


Uma das componentes mais marcantes do som Jefferson Airplane, durante os três anos em que a banda de São Francisco foi instrumentalmente enorme, residia na forma inigualável como a Rickenbacker 360 de Paul Kantner introduzia os temas, marcava o ritmo, liderava, por cima da guitarra solo de Jorma Kaukonen e do baixo tonitruante de Jack Casady.

Entre 1969 e 1972, a guitarra de Kantner deve ter sido a 12 cordas mais estimulante/militante de toda a Califórnia e, disso, ficaram abundantes provas em discos como “Volunteers”, Bark”, “Long John Silver”, “Sunfighter”, “Thirty seconds over Winterland ou “Blows against the empire”.

Vem esta recordação/curiosidade histórica a propósito de “When sweet sleep returned” dos também californianos Assemble Head in Sunburst Sound. Ao terceiro álbum, este quinteto de Frisco, para além das inevitáveis e óbvias referências contemporâneas ( Comets on Fire, Howlin Rain ) possui, pelos menos para os meus ouvidos, uma matriz sonora que muito se aproxima daquela que a família Airplane praticava.

Uma constatação que é possível, mesmo para além da colagem que o produtor Tim Green procurou fazer à sonoridade que obteve há um par de anos com “Avatar” dos Comets on Fire. Na verdade, em “When sweet sleep returned”, a agulha não parece ter sido exclusivamente direccionada para os trilhos heavy de Blue Cheer ou Black Sabbath ( como já vi por aí escrito ); tão pouco se aproxima demasiado de Grateful Dead. Quanto muito, uns Crazy Horse ou Creedence Clearwater Revival, aconchegados por um órgão Hammond poderiam ser opções a considerar.

Mas, quando em “Kolob Canyon” por exemplo, se escutam o protagonismo da guitarra ritmo, a propulsão melódica de um baixo quase em solo ou as vozes em torrente, é quase impossível não pensar em “Have you seen the saucers”, um hino que constituía o flipside de “Mexico” o emblemático e amplamente banido single que os Airplane publicaram em Maio de 1970.

Charlie Saufley e Jefferson Marshall não são Kantner nem Kaukonen, todavia o modo como transformam o boogie-rock “Two birds” numa vertiginosa derrapagem em direcção ao fuzz com passagem pelo gospel, deixará pouca gente indiferente.


“Two stage rocket” poderia ter sido escrita por Ethan Miller para uma das suas bandas, porém “Drunken leaves” conduz-nos de novo para as paisagens do psych melódico e algo pastoral que dá cor a “Long John Silver”. Pena que Camila Saufley também não seja Grace Slick…

“The slumbering ones” procura “arrefecer”, descendo até ao Arizona e ao seu “desert-rock”; “By the rippling greer” é o mais próximo que os AHISS estiveram de “Rockin’ in the free world”, enquanto “Clive and the Lyre” regressa à família Airplane através de uma competente versão fuzz para o folk-blues eléctrico que fazia a liturgia Hot Tuna. O facto da respectiva vocalização remeter directamente para as prestações tipo de Jorma Kaukonen será uma coincidência?

Em suma: “When sweet sleep returned” será tudo menos inovador. Porém é orgânico e convicto até às entranhas. Talvez por isso dê tanto gozo a escutar!