Longe do culto e estatuto actuais, em 1974 a carreira de Bert Jansch encontrava-se numa espécie de impasse. Depois de um notável conjunto de LPs a solo, mais ou menos em paralelo com a participação nos seminais Pentangle, Jansch pouco reconhecimento obtivera fora da Grã-Bretanha. Daí que, quando integrou o universo da Charisma Records, músico e editora tenham optado por tentar explorar o mercado americano.
Não resultou como é sabido. A prova porém tinha de ser feita e o guitarrista, depois de um par de sessões de gravação em Inglaterra, partiu para Los Angeles. Aí contratou o ex-Monkee Mike Nesmith como produtor e partiu para a gravação de um disco que, 35 anos depois, é simultaneamente um dos mais brilhantes e ignorados trabalhos da sua carreira: “L.A. Turnaround”.
Nele o talento de Jansch cruza a tradicional inspiração britânica com o discurso da country americana e, através da intervenção de Nesmith e da colaboração oportuna e decisiva de instrumentistas como Klaus Voormann, Byron Berline ou Red Rhodes, vai produzir um trabalho que sem esforço se pode classificar como um dos precursores de um género a que hoje se chama de “americana”.
As interpretações de melodias de inspiração celta continuam presentes através de instrumentais sem mácula como “Chambertin” ou “Lady nothing” ( de John Renbourn ). Nada portanto a que o guitarrista não nos tivesse já habituado. A novidade reside porém na consistente interacção entre a verve criativa e instrumental do escocês, com o universo rigoroso mas porventura mais estático da country americana.
Bastará escutar os diálogos da guitarra acústica de Jansch com os lamentos da “steel guitar” de Red Rhodes em “Fresh as a sweet Sunday morning”, “Travelling man” ou “Needle of Death”, quase sempre suportados pelo baixo de Voormann, para se perceber que à época estávamos na presença de uma sonoridade fora do comum.
“One for Jo”, “There comes a time”, “Of love and lullaby” ou “The blacksmith” ( uma cortesia de Doc Watson ) nivelam pela bitola dos temas anteriores. Juntos contribuem para que “L.A. Turnaround” constitua ainda hoje um lugar que se visita com imenso prazer e onde, como é hábito em Jansch, se aprende sempre algo mais.
A recente e primeira reedição em CD, acrescenta ao original um tema novo, três versões alternativas e um pequeno filme de 13 minutos que divulga imagens inéditas das curtas sessões de gravação que tiveram lugar em Sussex 1974.