29/05/09

Terry Emm "White Butterflies"


Será que a juventude permite escrever canções adultas? Nos casos em que o talento está presente, a resposta pode ser sim, embora nem sempre constitua regra.

Tim Buckley tinha 19 anos quando gravou “Tim Buckley” e 20 em “Goodbye and hello”. Nick Drake tinha 20 quando registou “Five leaves left”, cujas canções escreveu antes. Idade idêntica para o Richard Thompson que esteve em , “What we did on our holidays”, “Unhalfbricking” e “Liege and Lief”. Idem para o Steve Winwood que ajudou a escrever “Mr. Fantasy” e “Traffic”. Os exemplos são inúmeros…

A este respeito, ainda que a tentação exista, julgo ser cedo para dizer se Terry Emm pode desde já integrar aquele restrito grupo de eleitos. Aos 19 anos, este natural de Bedfordshire acaba de publicar aquele que poderá vir a ser o mais bem guardado segredo do “songwriting” inglês do ano em curso: “White Butterflies”.

De facto, por trás da cacofonia e ruído mediáticos que caracterizam hoje a produção musical, irá ser difícil a Terry Emm fazer-se ouvir. Apesar disso, sobretudo para além disso, as 10 canções que integram o CD de estreia são, a par dos também secretos e excelentes testemunhos de Rob Sharples, algo do mais verdadeiro, genuíno e porventura perene que o folk inglês conheceu nesta década.


A abrir “White Butterflies”, “Summer” sintetiza a atmosfera que vai presidir ao restante: guitarra acústica, voz de veludo, ambiente poético, excepcionais arranjos de cordas ( os quais neste particular, parecem querer unir dois célebres pontos cardeais, Nick Drake e os Triffids ).

“Sapphire eyes” alinha pela mesma bitola. Saem as cordas entra em cena o piano. Melódico, tímido, quase a pedir desculpa por estar ali. “Dove” é de uma beleza esmagadora, talvez a melhor caracterização do talento precoce de Terry Emm. Drake é, percebe-se, a influência dominante; nos contornos poéticos, na paisagem pastoral e na sonoridade de câmara, uma consequência directa dos arranjos de cordas de Richard Durrant, envolvendo as canções num delicado manto de classicismo.

“White Butterflies”, o tema, poderia tornar mais leve o dia a dia de milhares de indivíduos caso fosse tocado nas rádios. “The way you look” é um daqueles “old tunes” de luminosidade tipicamente “west coast” e que não ficaria deslocado no portfolio do compatriota Graham Nash. Quase a terminar, “Curtains” regressa ao folk de câmara e um “Blossom” sereno, poético e intimista, encerra um disco notável a que todos teremos de voltar mais tarde ou mais cedo.

A minha proposta é, como já se percebeu, o mais cedo possível.