18/06/09

Arbouretum "Song of the pearl"


Após o excelente “Rites of uncovering”, David Heumann e os Arbouretum regressam com um trabalho que consolida os patamares anteriores e acrescenta audácia e maturidade em doses significativas.

Com “Song of the pearl”, o grupo de Baltimore procura descolar da paisagem crepuscular onde se movimentam as sombras de Drive-by-Truckers, Weird Owl ou até Howlin Rain, partindo para locais mais inóspitos onde para se sobreviver é necessária uma atitude pioneira e visionária.

Logo a abrir, “False Spring” é um bom exemplo. A estrutura, densidade e propulsão ( a guitarra ritmo é fenomenal ) do tema recordam “In the gloaming” dos Jolene ( um disco enorme de uma enorme banda oriunda da Carolina do Norte e a que no final dos anos 90 ninguém prestou a devida atenção ). Um trecho onde a intervenção incendiária da guitarra solo aos 2m e 35s catapulta a canção para galáxias habitadas pelo fuzz e feedback, lugares habitualmente sem retorno e onde a redenção por vezes não é opção. Notável.



“Another hiding place” é introduzido por uma percussão que mais parece um pastiche de “Old man” de Neil Young; porém, rapidamente, evolui para um ambiente de stoner-jam, espécie de campo de batalha onde lentamente se digladiam duas guitarras preguiçosas e sujas, tão sujas quanto o foram as guitarras de “Brown sugar”.

Em “Down by the fall line” e sobretudo no belíssimo tema título, os Arbouretum penduram-se no alpendre e regressam ao folk eléctrico de inspiração apalachiana ( Jolene de novo ). O épico “Infinite corridors” traz de volta a pirotecnia, enquanto “The midnight cry” poderia ter sido um outtake de “Excitable boy” tal a semelhança ( na voz inclusive ) com o trabalho de Warren Zevon, o saudoso Malcolm Lowry do rock californiano.


A terminar, no original de Dylan “Tomorrow is a long time”, os Arbouretum procuram a última ponte entre o passado e o presente. Uma versão competente e dotada da necessária vertente dramática. Com um pequeno senão no entanto: Heumann não terá escutado a interpretação que Rod Stewart e dos Faces arrancam em “Every picture tells a story”, para não mencionar a de Sandy Denny em “Sandy”. Um pequeno pormenor que de resto não chega para tirar brilho e urgência àquele que é um dos melhores discos de guitarras dos últimos tempos.