Na música popular, apesar do talento, nem sempre se consegue original. Uma realidade que de resto tende a acentuar-se.
Dito isto, há que encarar a reciclagem como uma forma de expressão artística tão nobre como qualquer outra, naturalmente desde que estabelecidos patamares mínimos de exigência. Ou seja: quem recicla deve possuir bom gosto, razoável talento e similar dose de inteligência. Cumpridas estas premissas, os resultados podem revelar-se muito interessantes.
Neste âmbito, os Black Keys são uma banda que se escuta com agrado. Dan Auerbach, um dos dois membros do projecto de Ohio, decidiu radicalizar ainda mais o discurso no seu primeiro disco solo.
Com efeito, se por um lado “Keep it hid” não acrescenta nada de novo ao que já se conhece da história da música moderna dos últimos 40 anos, por outro permite perceber que Auerbach é detentor de um magnífico radar e colocou todos os cilindros em alta rotação quando partiu para a escrita destas canções.
O blues é a principal influência e motivação. Dan tem presente a velha tradição negra, mas procura respaldo em algumas das mais bem sucedidas abordagens ao tema por parte de músicos brancos .
Daí que “Keep it hid” seja um compêndio onde cabem Creedence Clearwater Revival ( como em “My last mistake”), Led Zeppelin ( escute-se o “psychedelic vibe” que varre o tema “Heartbroken, in disrepair” ), Van Morrison (“When the night comes ” não deixa lugar à dúvida ), o blues do moderno Tom Waits (“I want some more” ) a “heavy rotation” Stooges ( “Street Walkin”) e até, pasme-se, as arestas e ângulos imperfeitos de Tom Verlaine ( a conferir em “Whispered words” ).
A fasquia foi colocada muito alto como se percebe. O facto de Dan Auerbach a ter ultrapassado praticamente incólume, faz com que a expectativa para o que vem a seguir suba ainda mais.