No inicio da década de setenta apenas uma ínfima minoria, que se encontrava em Londres no ano e no local certo, tomou contacto com Clark-Hutchinson. Uma imensa maioria, onde me incluo, chegou tarde a “A=MH2”, o disco estreia do duo.
Como consequência , a banda que Andy Clark e Mick Hutchinson formaram em 1969, naquele período charneira em que o blues rock e o psicadélico se preparavam para mutar em progressivo, foi injustamente atirada para o limbo da irrelevância de onde só sairia cerca de 25 anos depois.
Agora que “A=MH2” teve a merecida e cuidada reedição, percebe-se o que tanta gente andou a perder durante tanto tempo.
Gravado em Maio de 1969, duas sessões nocturnas de 12 horas cada, “A=MH2” ( Andy igual a Mick Hutchinson ao quadrado ) é um dos trabalhos mais notáveis a emergir do underground londrino da época. Constituído por cinco temas, nenhum deles negligenciável e cujos títulos são elucidativos – “Improvisation on a Model Scale”/”Acapulco Gold”/”Impromptu in ‘E’ Minor”/”Textures in ¾”/”Improvisation on a Indian Scale” – a música gravada por Clark ( baixo, piano, órgão, sax, maracas, guitarras, flauta, voz ) e Hutchinson (guitarras solo e ritmo, , baixo, bongos, pianos, flauta ) atravessa os territórios habitados pelo blues, jazz, raga e psicadélico, com a coragem própria dos pioneiros. “A=MH2” está para além de qualquer fronteira conhecida, quer antes quer depois de ter sido gravado. É arrasador e não deixa sobreviventes.
A completar a reedição, o segundo disco integra a totalidade daquele que deveria ter sido o primeiro álbum do duo: intitulado “Clark-Hutchinson”. Gravadas em Março de 1969, as respectivas fitas nunca chegariam a ser editadas pela Decca em devido tempo ( foram objecto de uma edição limitada em CD na alemã Wing of Refugees a meio dos anos 90 ).
São oito temas de um “acid-blues-rock” explosivo, perfeitamente em linha com a época. Ou seja: uma evidente influência da John Mayall Blues Band, modelada pelas derivações vizinhas dos Chicken Shack e Fleetwood Mac ( período Peter Green ) ou por fórmulas usadas pelos Tramp e Groundhogs, as quais antecipavam a inflexão progressiva mais à frente levada a cabo por Bakerloo ou Gravy Train.
Ainda que notáveis do ponto de vista puramente instrumental, estes oito temas servem aqui de bitola para medir a notável evolução deste duo em apenas dois meses. Precisamente o tempo que separa estas gravações de um “A=MH2” tão superior e visionário que ainda hoje impressiona, 40 anos passados.