01/06/08

Grails "Take refuge in clean living"


Uma das edições que mais gosto na série “Latitudes”, publicada pela Southern Records, chama-se “Interpretations of three psychedelic rock songs around the world”, e tem a autoria dos Grails.

Para os que não tiveram oportunidade de o ouvir, as canções são: “Satori”, “Space Odyssey” e “Master Builder”, originais respectivamente da Flower Travellin’ Band, Byrds e Gong.

Trabalhar em cima de temas publicados é sempre problemático, mais ainda quando se tratam de canções sobre as quais já foi tudo ou quase tudo dito. Também por isso a iniciativa dos Grails merece ser sublinhada. A abordagem é particularíssima e mostra novos ângulos de visão sobre três temas sacrossantos e que se julgavam capítulos encerrados.

Imaginação! Imaginação sem fronteiras é o lema desta banda de Portland no Oregon. Partindo do pós-rock, há muito que os Grails abandonaram o espartilho do género e a par dos japoneses MONO são hoje uma das grandes referências da música moderna instrumental.

Take refuge in clean living” é mais um passo em frente, depois de “Burning of impurities” já ter surpreendido relativamente aos anteriores. Reflecte uma evolução notável que as peças “Stoned at the Taj again” ( o título até pode servir de legenda para a música ), “Take refuge” e “Clean living”, três dos cinco temas do álbum, permitem identificar.

A paixão stoner e groove está lá, por detrás dos ritmos, ragas, ou do drone. Serve de alicerce e sustenta o resto. E o “resto” são as influências orientais que tanto podem ter origem na India, no Japão ou no Médio Oriente.

Take refuge in clean living” é seguramente o disco mais consistente do quarteto. E o mais ousado, porventura. Agradará aos fãs dos subgéneros atrás referidos, mas agradará, estou convicto, aos seguidores de Morricone, aos quais sugiro a audição de “11th Hour” uma versão muito particular de um tema popularizado nos anos sessenta pelos Ventures.