11/08/21

Jardins do Paraíso ( LXIX )

 


Halfway through the session I called my friend Brent Titcomb and asked him to lend me his guitar because I had broken a couple of strings on my guitar and couldn’t afford new strings! I was penniless and hungry at the time of the Bunkhouse recording.” ( David Wiffen )

Na origem o álbum “At The Bunkhouse” foi pensado no formato “sampler” e a David Wiffen estavam destinadas apenas duas canções. Porém na noite das gravações, desencadeou-se forte tempestade na cidade de Vancouver e os restantes artistas não compareceram no estúdio da West Broadway. Wiffen, numa curta sessão de três horas, gravou um álbum inteiro. Do dito foram prensadas em 1965 apenas 100 cópias com o selo da International Records New York, facto que faz dele uma das maiores e mais dispendiosas raridades da época.

A recente, legítima e cuidada reedição em vinil permite finalmente apreciar a “infância artística” do autor. É verdade que os dois álbuns a solo posteriores – “David Wiffen” ( 1971 ) e “Coast to Coast Fever” ( 1973 ) – possuem os seus momentos, desde logo a sua criação mais conhecida “Driving Wheel”, sendo por essa razão altamente recomendados, mas “At The Bunkhouse Coffeehouse” é, com a sua vertente low-fi e algo naif, um retrato quase perfeito do jovem Wiffen ( “the songs on the album formed part of my working repertoire at the time” ).



Envelopado numa capa concebida e desenhada por
Bob Masse ( um par de anos volvidos um dos nomes grandes do grafismo e design psicadélicos em São Francisco ) o álbum arranca com uma versão minimalista do tema de Ian Tyson “Four Strong Winds” nos antípodas da interpretação que recebeu de Neil Young em “Comes a time”. Prossegue com a primeira canção escrita por Wiffen “Slice of Life”; logo a seguir “Since I fell for you”, voz e guitarra, numa espécie de demo envolta em nicotina, frugal e diversa da versão que o piano arredondaria no álbum homónimo de 1971.

Pelo meio “Don’t Think Twice, It’s All Right”, numa interpretação que em partes iguais remete para Phil Ochs e Gordon Lightfoot muito mais que para Dylan. Os detalhes vocais são, como facilmente se infere, factor determinante para a ousada similitude.

O lado B é composto por tradicionais, um blues ( “You don’t know my mind” ) uma cortesia de Leadbelly. Termina com o esplendoroso “Four in the morning”, um lugar onde em tons pungentes, a guitarra e sobretudo a voz, sublinham uma canção de excepção.

At The Bunkhouse Coffehouse” é um disco de um outro tempo. Não colherá a aprovação de todos e haverá quem o apelide de datado. Mas a candura e a ainda que forçada economia de meios, ajudam a potenciar o talento então emergente de David Wiffen, um expatriado que aos 16 anos trocou Surrey na Inglaterra natal pelo Canadá.