26/07/21

Jardins do Paraíso ( LXVIII )

 


During those first few formative weeks and months we laboured to find whatever it might be that we all had to offer each other, and whatever it was we could assembler out of the disparate parts. We knew the end product lay somewhere between the smoky folk clubs of the 1960s, the browning pages of a crumpled copy of A. L. Lloyd’s Penguin Book Of English Folk Songs, and the thick cardboard jackets of the import vinyl we’d find at the unique Simon Stable’s record store on Portobello Road. We had to beat a trail through the middle, the dark heart of Albion on one side, mystic and brooding, and the new west coast electric psychedelia on the other, candy coloured and loud.” ( David Costa )


Há uns anos, numa entrevista e em sentido lato, Denzel Washington expressou o seguinte estado de espírito ( cito de memória ): “Ao envelhecermos tornamo-nos conservadores, na exacta medida em que temos mais coisas para conservar.” No caso do Atalho,  não havendo grandes bens materiais a preservar, guardam-se as memórias, as emoções e sobretudo o extremo bom gosto.

Aqui chegados, antecipo a curiosidade do leitor. Por que razão o Atalho tem consistentemente vindo a prestar mais atenção à música dita “antiga” em notório prejuízo de sons e autores contemporâneos?




Entre as várias respostas possíveis ( todas questionáveis naturalmente ), a música incluída na compilação dos The Trees lançada no ano passado poderia ( pode ) perfeitamente constituir uma das respostas àquela inquirição. Quem, detentor de um mínimo de critério e apreciável bom gosto será capaz de trocar aquelas músicas por algo do que se  (re)inventa hoje? E dito isto, sublinho: a velha e polémica questão geracional assume aqui um papel absolutamente irrelevante, pelo menos no que ao Atalho diz respeito.

Trees”, a compilação, é a tradução material da citação do criador e principal impulsionador do grupo que encima este texto. Os dois únicos álbuns da banda de Londres: “The Garden of Jane Delawney” ( Abril 1970 ) e “On The Shore” ( Janeiro 1971 ) resultam da paixão pela música folk britânica mesclada com a cromaticidade sonora da west coast ( confiram a título de exemplo os primeiros discos a solo de Paul Kantner e toda a constelação de estrelas itinerantes que por ali foram passando ).

Garden…” é um álbum extraordinário, mas “On the Shore” é superlativo. O pico da criatividade de uma banda que, nascida do acaso, teve a fortuna de a dado momento  alinhar com as estrelas. Num mundo mais justo, Celia Humphris poderia ter competido com Maddy Prior ou June Tabor. Confiram a este propósito “Sally Free and Easy”, a extraordinária versão do tema de Cyril Tawney. Quanto a “On The Shore” compara muito bem com “Unhalfbricking”, “Liege & Lief”, “Hark The Village Wait” ou “Fotheringay”.



A nova digitalização dos dois álbuns supera em qualidade as reedições de 2008 e os CDs extra disponibilizam misturas de temas que ficaram de fora daquelas reedições, bem como várias demos e sessões na BBC datadas de 1969/1970 e prestações de palco captadas no Café Oto em 2018.

A apresentação da box é cuidada e suficientemente elegante para alinhar com a qualidade e sofisticação da música que inclui. Um deleite.