A pandemia para além de
desestruturar e colocar no fio da navalha a vida de milhões, vá-se lá saber
porque, ajudou também a dinamitar as rotinas do Atalho. “Paradise Lost” – constato-o
agora -, um extraordinário disco duplo de uma das bandas favoritas deste
espaço, esteve encostado / selado mais de um ano, sem nenhuma razão aparente, à
espera de uma oportunidade para ser escutado e devidamente apreciado.
Numa limitada e luxuosa edição da
Sunbeam que inclui booklet explicativo, poster e folheto com as letras,
“Paradise Lost” expõe pública e pela primeira vez prestações ao vivo e as demos
que tinham como destino o abortado terceiro álbum dos Fallen Angels.
O primeiro LP revela a prestação
da banda de Washington DC num concerto organizado pelo jornal underground
“Washington Free Press”. Evento cujo objectivo era apoiar a luta pelos direitos
civis, das mulheres e o movimento anti-guerra ( Vietnam, entenda-se ). Data de
1969, na ressaca do comercialmente falhado “It’s a Long Way Down”.
Inicia-se com dois temas ( mantras
diria ) interpretados a solo por Jack Bryant. Seguem-se uma versão imaculada do
clássico “A Horn Playing On My Thin Wall”, “Look at the Wind” e, àquela data, o
inédito “Everything Would be Find”. No lado B estão plasmadas versões notoriamente
criativas de originais de Dylan, Donovan e Love. O áudio é excelente, a
competência dos músicos e o lirismo que emana quer dos textos de Bryant quer
das melodias, não sofre do habitual síndrome de palco.
O segundo LP inclui sobretudo demos. No lado A, uma versão sofrível de “Who do you love” provando que o talento e a sensibilidade do colectivo não era compaginável com o blues/rock praticado na época, e um conjunto de temas que foram ou viriam a ser publicados em formato single, entre eles “Everytime I Fall in Love” e “Hello Girl”.
Para o fim, no lado B, a
surpresa. Nove demos gravadas a solo por Jack Bryant em 1969, as tais que
tinham como destino o tal terceiro álbum cuja gravação a Roulette optou por não
patrocinar.
Aqueles que como o Atalho avaliam
“It’s a Long Way Down” como uma das grandes “anomalias” do psicadelismo americano do final dos 60s ( e
é nestas alturas que “A Gift From Euphoria” vem à memória ), ao escutar estas demos, irão
inevitavelmente ser tentados a imaginar como teriam soado, caso tivessem beneficiado
de arranjos apropriados e da magia criativa que emergia do quarteto.