28/02/21

Jardins do Paraíso ( LXV )

 


( Patrick Lundborg, “The Acid Archives, The Second Edition”, 2010 )


 Deixou de ser um segredo.

The Constant Sound”, o Holy Grail do “sunshine psych pop” norte-americano foi finalmente editado e, com isso, termina a busca e a especulação.

Concebido em 1968 com o objectivo de servir de banda sonora ao filme avant-garde “You don’t have time” ( uma apologia boémia ao “flower power” então prevalente na Califórnia ) dirigido por Herb Kosower, “The Constant Sound” nasceu amparado no talento visionário de Allyn Ferguson, o produtor executivo da película.

Ferguson, um verdadeiro homem da renascença ( compositor, arranjador, orquestrador, maestro, catedrático … ), começou a dar nas vistas na Segunda Grande Guerra onde foi piloto de caças. Acabou em 2010, celebrado como um dos artistas mais marcantes da música norte-americana das cinco décadas anteriores. Durante esse período trabalhou na rádio, televisão, teatro, cinema, concebeu arranjos e/ou produziu um sem número de artistas das mais variadas latitudes, conectou a poesia experimental com o jazz nas célebres gravações que o Allyn’s Chamber Jazz Sextet deixou …


Em 1968, enquanto um dos líderes do projecto “You don’t have time”, Allyn reservou o ID Sound Records estúdio em Hollywood para as sessões de gravação da respectiva banda sonora. A música fora escrita por George Wyle, as letras por David C. Wilson.

Os instrumentistas esses emergiram da nata de músicos de sessão de Los Angeles ( Howard Roberts, Bill Pitman, Al Casey, Chuck Berghofer, Hal Blaine, John Guerin, Pete Jolly, Lincoln Mayorga … ) um conglomerado de talentos jocosamente baptizado The Wrecking Crew.

O grupo de cantores, um sexteto, aqui apelidado The Constant Sound Singers, havia trabalhado no show televisivo de Andy Williams ( recordo-me que a seu tempo a RTP emitiu vários episódios desses shows para Portugal ) onde davam pelo nome de The Andy Williams Singers.  Allyn Ferguson, como facilmente se deduz, era o director musical do show.


Perguntarão: e quanto às músicas agora publicadas, afinal a razão de ser de tudo isto?

Sem ponta de exagero, diria que são pequenos grandes esboços de filigrana em forma de melodia, luminosos como convém, desenhados numa tela pensada e criada para celebrar o sol, como se só isso importasse. Um ritual onírico que não sendo inédito na música e nas artes da época, está contudo muitos furos acima da média.

Um daqueles discos que se saboreia a cada nova audição.

Nota: “You don’t have time”, o filme, embora tendo estado presente no Edinburgh International Film Festival 1970, nunca chegou ao circuito comercial.

( Reprodução do design projectado para a capa da abortada edição do LP em 1968 )