“Últimos dias de Agosto com o Sam no Kentucky. Tínhamos estado
a trabalhar toda a noite. À hora do crepúsculo, voltei a sair para uma pequena
pausa …
O Sam olha para cima na minha direcção, quando volto a casa;
regressamos de imediato ao trabalho. Estamos a primeira revisão de um
manuscrito recente. Há várias mudanças a fazer e partes de texto a introduzir
que são ditas em voz alta para evitar o esforço
que é para ele agora escrever à mão.
Disse-me há algum tempo que se deve escrever em absoluta solidão,
mas a necessidade obrigou-o a proceder de outra maneira. Senta-se estoicamente
na cadeira de rodas, descansando as mãos sobre a mesa. A sua velha guitarra
Gibson está ali muito quieta a um canto, nunca mais a vai poder tocar.
Faz parte de um tempo presente que o fustiga duramente, tal
como não poder bater as teclas da máquina de escrever, laçar o gado e lutar com
ele até o domar, orgulhoso nas suas botas de vaqueiro.
Mas nem eu nem o Sam nos referimos a essas coisas. Ele preenche
os silêncios com a palavra escrita, na busca de uma perfeição de que apenas ele
é portador.”
(“ O Ano do Macaco”, 2019 )