No ano em que “After The Gold Rush”, uma das obras primas de
Neil Young, completa meio século de existência, o canadiano acordou finalmente
conceder-nos o privilégio de aceder a “Homegrown”, o álbum que gravou entre
1974 e 75 e cuja publicação, à época, preteriu em favor de “Tonight’s The Night”.
Depois de escutado, à luz do que se sabe hoje, não se
descortina a razão que terá levado Young a impedir a sua edição em tempo.
Pode naturalmente especular-se sobre o factor Carrie
Snodgress, a quem “Homegrown” surge agora dedicado. É verdade que “Separate
Ways” ou “Try” são canções pessoais, auto biográficas seguramente, mas essa
condição nunca foi um motivo inibidor para Young, ainda que como é sabido, em
matéria de questões de carácter sentimental, seja por vezes necessário comprar
tempo.
Todo o modo, “Homegrown” não é apenas um álbum unipessoal.
Instrumentalmente escorado em alguns dos suspeitos do costume ( Ben Keith, Tim
Drummond, Karl T. Himmel, Emmylou Harris, Levon Helm, Robbie Robertson ),
trata-se de um disco diverso que mescla os característicos temas “rough” ( “Vacancy”,
“We don’t smoke it no more” ) com os também característicos temas “redondos” ( “White
Line”, “Little Wing” ou “Love is a rose” ).
No total são doze peças, parte das quais já anteriormente
conhecidas de outros álbuns : “Love is a rose” ( “Decade”), “Homegrown”, “Star of Bethlehem”( “American Stars’n’Bars” )
e “Little Wing” ( “Hawks and Doves” ). “Separate ways”, “Vacancy” e “Mexico”,
serão das restantes, aquelas que mais facilmente permanecerão na agenda dos incondicionais
do canadiano.
Quarenta e cinco anos volvidos, dir-se-à que “Homegrown”
talvez não logre atingir os patamares de genialidade que a lenda alimentada pela recusa da sua
publicação foi construindo ao longo do tempo. É porém um bom disco de Neil
Young, fruto de ter nascido naquele que é porventura o seu período mais
criativo.