30/06/20

Jack Sharp "Good Times Older"



33 escassos minutos. Porém momentos de uma beleza extrema que cativa pelo inesperado. Oito tradicionais, dois originais e uma versão ( “God Dog” ) de Robin Williamson para a Incredible String Band.

Após ter colocado os Wolf People no mapa do moderno folk-rock, Jack Sharp reemerge com um álbum de uma simplicidade desarmante, como que saído de um outro tempo. Antigo, identificado com as memórias que restaram de Nic Jones ou Michael Blount nos idos de 70, deliberadamente afastado das urgências inconsequentes e superficiais do presente.

Good Times Older” enquanto título, diz tudo ou quase. A guitarra acústica de Sharp, o violoncelo de Edwin Ireland e, ocasionalmente, a concertina de Laura Smyth, dizem-nos o resto.

A atmosfera é nostálgica. Bela todavia, como quase sempre sucede com a música que resulta daquele sentimento. A voz de Sharp não se enquadra no paradigma do folk-rock britânico ( por vezes lembra o Dave Heumann dos Arbouretum ), mas o critério e o talento com os quais aborda estas canções, constituem para o ouvinte um desafio que as sucessivas audições ajudam a normalizar.

“Good Times Older” e “May Morning Dew”, estratégicamente colocadas a abrir e a fechar, são canções ( versões ) memoráveis. Pelo meio encontramos os originais “Soldier Song” e “Treecreeper” e a interpretação cirúrgica de “God Dog” do já referido Williamson e à qual a divina Shirley Collins já dedicou a sua atenção em tempo próprio.

Não fora a atmosfera predominantemente trad-folk e quase se podia afirmar que “Good Times Older” constituía um dos melhores álbuns de um “singer songwriter” britânico desde a época em que os ditos proliferavam.