Espécie de diagrama do percurso de Wizz Jones enquanto jovem
artista, o álbum homónimo deste natural de Croydon, soa ainda hoje – meio século
volvido -, como uma pequena e frágil peça de joalharia cujos detalhes mais
secretos se vão revelando a cada nova observação ( audição ).
Percursora dos hippies, uma outra tribo britânica, viajante, artista,
boémia e hedonista – os beatnicks – tinha como um dos objectivos primários
atravessar o Canal da Mancha, armada apenas das guitarras, banjos, vozes
idílicas e pueris.
Wizz Jones protagonizou-o, vivendo os primeiros anos dos 60s entre França ( ao
lado de Clive Palmer, Mick Softley, Ralph McTell, Davy Graham ou Rod Stewart )
e a boémia londrina do Soho. Ao virar a metade
da década gravou com Pete Stanley um disco onde o bluegrass mandava mais que a
então emergente paixão pelo blues: “16 Tons of Bluegrass”. O projecto por ali
ficou e Jones deu então inicio a uma efémera e praticamente infecunda parceria
com Clive Palmer; regressado da India, Afeganistão e fundador da Incredible
String Band, a qual recém abandonara.
Quando a década já desvanecia, Jones e o compositor Alan
Tunbridge recuperaram uma amizade velha dos tempos passados em Cornwall. Atribuíram-lhe
contornos artísticos e num ápice surgiram onze canções. O álbum “Wizz Jones”
publicado em Junho de 1969, são essas onze canções, mais “American Land” de
Pete Seeger e meia dúzia de tradicionais; blues como era bastante comum na
época, entre os quais “Corrine’s Blues” e “Guitar Shuffle”.
As canções de Tunbridge reflectem as vivências de ambos. Constituem
por isso um genuíno road map das opções e percurso dos dois homens. Autênticas
e inspiradas, só podiam entretanto melhorar ao vestirem o talento
instrumental de Jones ( um dos mais
dotados guitarristas acústicos da sua geração ). A voz essa, é um pormaior adicional,
compreensivelmente nada despiciendo.
Finalmente reeditado numa edição limitada que inclui as
versões stereo ( em vinil ) e mono ( em CD ), um folheto e a reprodução de um
postal promocional criado pela United Artists em 1969, “Wizz Jones” é uma das
peças que melhor define uma certa estirpe de songwriters britânicos para quem o
folk e o blues tradicionais, para além de enorme fonte de inspiração, sonorizavam
o quotidiano, fazendo portanto todo o sentido. Escutem “Shall I wake you
from your sleep”, “O my friend”, “Dazzling Stranger” ou “Guitar Shuffle” e percebam porquê.
“Listening to this album takes me back
through many years, many memories, of long hot summers in Newquay and milk trains to Brighton for
Sunday raves of the front. Of afternoons in Sam Widges, Soho and nights at
Charing Cross”
( Long John Baldry, na contracapa do disco ).