18/05/20

Jardins do Paraíso ( LXII )



Espécie de diagrama do percurso de Wizz Jones enquanto jovem artista, o álbum homónimo deste natural de Croydon, soa ainda hoje – meio século volvido -, como uma pequena e frágil peça de joalharia cujos detalhes mais secretos se vão revelando a cada nova observação ( audição ).

Percursora dos hippies, uma outra tribo britânica, viajante, artista, boémia e hedonista – os beatnicks – tinha como um dos objectivos primários atravessar o Canal da Mancha, armada apenas das guitarras, banjos, vozes idílicas e pueris.

Wizz Jones protagonizou-o, vivendo os primeiros anos dos 60s entre França ( ao lado de Clive Palmer, Mick Softley, Ralph McTell, Davy Graham ou Rod Stewart ) e a boémia londrina do Soho. Ao virar a  metade da década gravou com Pete Stanley um disco onde o bluegrass mandava mais que a então emergente paixão pelo blues: “16 Tons of Bluegrass”. O projecto por ali ficou e Jones deu então inicio a uma efémera e praticamente infecunda parceria com Clive Palmer; regressado da India, Afeganistão e fundador da Incredible String Band, a qual recém abandonara.

Quando a década já desvanecia, Jones e o compositor Alan Tunbridge recuperaram uma amizade velha dos tempos passados em Cornwall. Atribuíram-lhe contornos artísticos e num ápice surgiram onze canções. O álbum “Wizz Jones” publicado em Junho de 1969, são essas onze canções, mais “American Land” de Pete Seeger e meia dúzia de tradicionais; blues como era bastante comum na época, entre os quais “Corrine’s Blues” e “Guitar Shuffle”.

As canções de Tunbridge reflectem as vivências de ambos. Constituem por isso um genuíno road map das opções e percurso dos dois homens. Autênticas e inspiradas, só podiam entretanto melhorar ao vestirem o talento instrumental  de Jones ( um dos mais dotados guitarristas acústicos da sua geração ).  A voz essa, é um pormaior adicional, compreensivelmente nada despiciendo.

Finalmente reeditado numa edição limitada que inclui as versões stereo ( em vinil ) e mono ( em CD ), um folheto e a reprodução de um postal promocional criado pela United Artists em 1969, “Wizz Jones” é uma das peças que melhor define uma certa estirpe de songwriters britânicos para quem o folk e o blues tradicionais, para além de enorme fonte de inspiração, sonorizavam o quotidiano, fazendo portanto todo o sentido. Escutem “Shall I wake you from your sleep”, “O my friend”, “Dazzling Stranger” ou “Guitar Shuffle” e percebam porquê.

Listening to this album takes me back through many years, many memories, of long hot summers  in Newquay and milk trains to Brighton for Sunday raves of the front. Of afternoons in Sam Widges, Soho and nights at Charing Cross

( Long John Baldry, na contracapa do disco ).