25/01/20

Bill Fay "Countless Branches"




I wanna walk in the hills, of Enniskellen,

I wanna feel my heels touch something real,

I wanna turn my back on the forces from hell

And feel my heels touch something real

Everybody knows it, it’s self-evident

This world ain’t safe in human hands
( “In Human Hands” )

O mundo está feio e perigoso como não acontecia há décadas. Mais do nunca são precisas vozes lúcidas, serenas, perspectivando aquilo que realmente importa agora e, sobretudo, amanhã.

Bill Fay é ( sempre foi ) um trovador inteligente, discreto e, acima de tudo o resto, lúcido. Pagou naturalmente o preço que o mainstream cobra pela ousadia de praticar a integridade ( na edição do passado dia 15, o New York Times escrevia: “Bill Fay was a hidden gem. One musician made finding him a mission”, embora não conste que esse facto o tenha incomodado ou contribuído para inflectir o percurso.

Countless Branches” não se desvia um milímetro do citado percurso. Ainda e sempre sereno, é um disco de causas ( humanas e ambientais ), lírico e intimista, matriz do talento do autor.

Não é contudo um registo apontado a gente apressada ou superficial. Antes o género de disco que envelhece lentamente e que tem ( sublinha-se o “tem” ) de ser escutado no recanto do silêncio e introspecção.



Chamadas de atenção vestidas de lamentos ( “In Human Hands”, “Salt of The Earth”, “How Long, How Long” ) intercaladas de sublimes hinos à esperança ( “I Will Remain Here”, “Filled With Wonder Once Again”, “Love Will Remain” ), dão corpo a um conjunto de canções de inigualável beleza, algo que a nossa memória não retinha desde há muito.

Pormenorizando: dez temas de construção simples e resultado intenso, a que se juntam sete bónus tracks, entre os quais uma nova abordagem de “Don’t Let The Marigolds Die” ( originalmente publicada em 1971 no álbum “Time of The Last Persecution” ) e versões eléctricas de “Filled With Wonder Once Again”, “How Long, How Long” e “Love Will Remain”.

Isto dito, regresso ao inicio, a “In Human Hands”, uma das pérolas maiores de um disco que se nos cola à pele e aos sentidos como poucos hoje o logram fazer.