I wanna feel
my heels touch something real,
I wanna turn
my back on the forces from hell
And feel my
heels touch something real
Everybody
knows it, it’s self-evident
This world
ain’t safe in human hands”
( “In Human Hands” )
O mundo está feio e perigoso como não acontecia há décadas.
Mais do nunca são precisas vozes lúcidas, serenas, perspectivando aquilo que
realmente importa agora e, sobretudo, amanhã.
Bill Fay é ( sempre foi ) um trovador inteligente, discreto
e, acima de tudo o resto, lúcido. Pagou naturalmente o preço que o mainstream
cobra pela ousadia de praticar a integridade ( na edição do passado dia 15, o
New York Times escrevia: “Bill Fay was a hidden gem. One musician made finding
him a mission”, embora não conste que esse facto o tenha incomodado ou contribuído
para inflectir o percurso.
“Countless Branches” não se desvia um milímetro do citado
percurso. Ainda e sempre sereno, é um disco de causas ( humanas e ambientais ),
lírico e intimista, matriz do talento do autor.
Não é contudo um registo apontado a gente apressada ou
superficial. Antes o género de disco que envelhece lentamente e que tem (
sublinha-se o “tem” ) de ser escutado no recanto do silêncio e introspecção.
Chamadas de atenção vestidas de lamentos ( “In Human Hands”, “Salt
of The Earth”, “How Long, How Long” ) intercaladas de sublimes hinos à
esperança ( “I Will Remain Here”, “Filled With Wonder Once Again”, “Love Will
Remain” ), dão corpo a um conjunto de canções de inigualável beleza, algo que a
nossa memória não retinha desde há muito.
Pormenorizando: dez temas de construção simples e resultado
intenso, a que se juntam sete bónus tracks, entre os quais uma nova abordagem
de “Don’t Let The Marigolds Die” ( originalmente publicada em 1971 no álbum “Time
of The Last Persecution” ) e versões eléctricas de “Filled With Wonder Once
Again”, “How Long, How Long” e “Love Will Remain”.
Isto dito, regresso ao inicio, a “In Human Hands”, uma das
pérolas maiores de um disco que se nos cola à pele e aos sentidos como poucos hoje o
logram fazer.