Hoje, ao reescutar “Phantasmagoria in Two”, lembrei-me de uma
história.
Por altura do Natal de 81, com 14 anos de atraso, foi pela
primeira vez publicado em Portugal o álbum “Goodbye and Hello” de Tim Buckley.
Na época, a minha crónica publicada no “Jornal Se7e” terminava assim: “
… mais do que um acto capaz de
aplacar as carências dos nossos egos, a audição desta música é a única forma
possível de pagar a dívida que desde então contraímos para com Tim Buckley.”
A forma utilizada, que não o conteúdo, talvez fosse hoje
diferente mas naquela redacção, durante cerca de duas semanas, fui o
destinatário quase exclusivo do gozo generalizado e zombarias similares. “Pagar uma dívida a Tim Buckley??”
Convicto, ria-me para dentro, encolhia os ombros e pensava:
“não lhes chegava serem surdos, tinham de nascer desprovidos de alma.”
Passaram décadas e “Goodbye and Hello” permanece um dos
meus discos de cabeceira. Meu e de muita outra gente, grande parte dela nascida bastante depois do
álbum ter sido publicado e que decerto concorda comigo.
O tempo permanece o melhor crítico musical que conheço. E um
jovem que aos 19 anos, possui a maturidade e sensibilidade suficientes para
escrever um texto como “Phantasmagoria in Two”, musicá-lo e interpretá-lo desta
forma extraordinária, no mínimo, merece a eternidade.