23/06/19

Neil Young & Stray Gators "Tuscaloosa"



Quando, instintivamente, começamos a dar mais atenção a sons antigos em detrimento dos novos, e dependendo do grau de conhecimento ou empenhamento, duas coisas podem acontecer: a) fomos capturados pelo síndrome geracional do tipo “o classic rock é que era e  já não se faz música como dantes” ; b) os sons actuais não são apelativos o suficiente. Casos haverá em que estas duas verdades poderão coexistir.

Quem tiver a paciência para ler neste espaço decidirá, mas o Atalho quer acreditar que  mantém toda a abertura para as novas sonoridades e se delas mais não fala é porque na sua opinião não justificam a referência.

Algo de semelhante se passa de resto com artistas cuja obra atravessa o tempo e as gerações. Neil Young por exemplo.

Sabe-se que o canadiano é imune a pressões, movimentando-se apenas em função dos seus impulsos, artísticos, pessoais ou ambos.

O facto da recuperação dos seus arquivos ter vindo a incidir fundamentalmente em material da primeira metade dos 70s não tem por certo apenas a ver com critérios cronológicos ( esses também nunca foram uma barreira para o autor ); talvez Young tenha finalmente aceite e reconhecido que grande parte do seu melhor material está confinada àqueles anos. Uma teoria naturalmente, porque com o canadiano nada é adquirido.

Captado ao vivo a 5 de Fevereiro de 73 na Universidade do Alabama, “Tuscaloosa” mostra-nos um Neil Young no pico da sua forma, acompanhado pela mesma banda que gravou “Harvest” ( Jack Nitzsche no piano, Tim Drummond no baixo, Kenny Buttrey na bateria e Ben Keith na guitarra slide ) e “Time Fades Away” ( aqui com Johnny Barbata no lugar de Buttrey ).



Face ao alinhamento do concerto poderá haver quem, legitimamente, questione: precisávamos mesmo de “Tuscaloosa” quando tínhamos os referidos “Harvest” e “Time Fades Away”? A resposta é afirmativa. Sim, precisávamos.
Porque “Tuscaloosa” é seguramente um dos melhores discos ao vivo de Young. Não apenas pelo extraordinário naipe de canções que integra, mas sobretudo pela forma inspirada e consistente como estas são interpretadas pelos Stray Gators, liderados por esse músico enorme que foi Jack Nitzsche.

“Here we are in the years” e “After the gold rush” são Young a solo; mas logo a seguir,  nas sublimes versões mid-tempo de “Out of the weekend” e “Old man”, locais a guitarra acústica do canadiano nunca soou tão bem,  irrompe todo o talento da banda de suporte. “Lookout Joe” e “New Mama”, versões pujantes mas menos claustrofóbicas que em “Tonight’s The Night” evidenciam toda a mestria de Bill Keith na slide guitar.  “Alabama” por seu lado não ostenta o conforto das vozes de David Crosby e Stephen Stills, mas em contrapartida é uma delicia escutar o piano maestro de Nitzsche.

E no final, depois da enésima audição de “Tuscaloosa”, quase nos esquecemos de quão brilhante é “Roxy, Tonight’s The Night Live” publicado no ano passado.