( foto de Michael Putland )
Ao contrário de Neil
Young, com quem o Atalho persiste em manter uma relação conflituosa, os
seus três sobredotados companheiros de viagem ( Crosby, Stills e Nash ) há
muito que foram arrumados na respectiva prateleira dourada da história.
David Crosby, desde que lhe secou a criatividade,
vai coleccionando episódios caricatos, uns atrás dos outros. Stephen Stills arrasta-se como pode e
são os velhos amigos que lhe estendem a
mão ( Judy Collins por exemplo ). Graham Nash por seu lado cultiva uma inteligente e sensata
discrição. Não foi pois difícil esquecê-lo ainda que, constata-se agora, talvez
não tenha sido a mais acertada das opções.
Ainda que inspiradas e por vezes brilhantes, as criações de
Crosby ( “If I Could Only Remember My Name” é um disco
superlativo ) e Stills soam hoje algo datadas porque escutadas fora do contexto
artístico e social que as motivou. Até há pouco, presumimos que algo de
semelhante se passaria com as canções de Graham
Nash. Nada de mais errado, como a espuma dos dias e a compilação “Over
The Years” se encarregam de demonstrar.
Plasmadas em cima da realidade do mundo de hoje, estas
canções ( a maioria escrita há mais de 35 anos ) são de uma actualidade
incomodativa. Naquele registo a meio caminho entre o trovadoresco e o pacifista, regressam para
inquietar de novo as consciências daqueles que estiverem disponíveis para se
inquietarem, de facto.
Revisão da matéria dada? Porventura. Não é todavia possível
desvalorizar a inesperada conexão que, depois de décadas, temas como
“Immigration Man”, I Used to be a King”, “Military Madness”, “Chicago” ou
“Teach Your Children” mantém com a
realidade que hoje observamos, por entre um oceano de sombras e muita incredulidade.
Acresce ainda o facto nada despiciendo de muitos deles possuírem um carácter
autobiográfico.
“Over
The Years” são 30 temas. Metade recuperada aos álbuns originais, ainda que aqui e ali
experimentando misturas diferentes; os restantes sob a forma de “demos” inéditos até à data. E não deixa de ser um
exercício curioso – diria inspirador -, constatar como a aparente simplicidade destas
“demos” conduziu às versões “definitivas”, amiúde preenchidas pelo talento
instrumental de gente como Jerry Garcia, Phil Lesh, Dave Mason ou David
Lindley.
Sendo primeiramente um testemunho artístico, “Over
The Years” acaba muito
justamente por ser algo mais do que isso.