14/11/18

Graham Nash "Over The Years"



 ( foto de Michael Putland )

Ao contrário de Neil Young, com quem o Atalho persiste em manter uma relação conflituosa, os seus três sobredotados companheiros de viagem ( Crosby, Stills e Nash ) há muito que foram arrumados na respectiva prateleira dourada da história.

David Crosby, desde que lhe secou a criatividade, vai coleccionando episódios caricatos, uns atrás dos outros. Stephen Stills arrasta-se como pode e são os velhos amigos que lhe estendem  a mão ( Judy Collins por exemplo ). Graham Nash  por seu lado cultiva uma inteligente e sensata discrição. Não foi pois difícil esquecê-lo ainda que, constata-se agora, talvez não tenha sido a mais acertada das opções.

Ainda que inspiradas e por vezes brilhantes, as criações de Crosby ( “If I Could Only Remember My Name” é um disco superlativo ) e Stills soam hoje algo datadas porque escutadas fora do contexto artístico e social que as motivou. Até há pouco, presumimos que algo de semelhante se passaria com as canções de Graham Nash. Nada de mais errado, como a espuma dos dias e a compilação “Over The Years” se encarregam de demonstrar.

Plasmadas em cima da realidade do mundo de hoje, estas canções ( a maioria escrita há mais de 35 anos ) são de uma actualidade incomodativa. Naquele registo a meio caminho entre o  trovadoresco e o pacifista, regressam para inquietar de novo as consciências daqueles que estiverem disponíveis para se inquietarem, de facto.

Revisão da matéria dada? Porventura. Não é todavia possível desvalorizar a inesperada conexão que, depois de décadas, temas como “Immigration Man”, I Used to be a King”, “Military Madness”, “Chicago” ou “Teach Your Children” mantém com a  realidade que hoje observamos, por entre um oceano de sombras e muita incredulidade. Acresce ainda o facto nada despiciendo de muitos deles possuírem um carácter autobiográfico.

Over The Years” são 30 temas. Metade recuperada aos álbuns originais, ainda que aqui e ali experimentando misturas diferentes; os restantes sob a forma de “demos”  inéditos até à data. E não deixa de ser um exercício curioso – diria inspirador -, constatar como a aparente simplicidade destas “demos” conduziu às versões “definitivas”, amiúde preenchidas pelo talento instrumental de gente como Jerry Garcia, Phil Lesh, Dave Mason ou David Lindley.

Sendo primeiramente um testemunho artístico, “Over The Years” acaba  muito justamente por ser algo mais do que isso.