“Gene wrote so damn many songs we just couldn’t
even tape them all. He would come in with a notebook full of songs. And if you
didn’t tape them quickly, he would forget what tune he wrote them to.” ( Jim Dickson, manager ).
É inevitável. Sempre que o Atalho regressa a Gene Clark, abre-se aquela gaveta da
memória que dá acesso directo a Tim
Buckley. Não que, para além de um desmesurado talento e de carreiras que
lhes foram madrastas, os dois tenham muito mais em comum; não obstante a
associação persiste. Buckley intitulou o seu terceiro álbum “Happy
Sad” e, “triste / contente”, é quase sempre o estado de espírito
presente, durante e após a audição das canções de Gene.
“He was a very sultry, perplexed man. Very
introspective. And he had this gloom around him – although I must say that he
had a very sweet and charming side to him. But you never knew which side of him
you were dealing with. He would be fine for a while, then he would get deeply,
deeply depressed.” (
Michelle Phillips, The Mamas and The Papas ).
As canções, notáveis na esmagadora maioria, reflectem naturalmente
a personalidade do autor. Aqui e ali são habitadas pelos demónios que atormentavam
Gene desde que havia sido “expulso” dos Byrds,
banda onde até então fora o principal e mais bem sucedido compositor.
“Gene Clark with The Gosdin Brothers” o primeiro álbum a solo (
publicado em Fevereiro de 67 ), não foi o êxito que o compositor e a editora (
Columbia ) desejavam. Basicamente uma “anomalia” – onde o folk rock de Sunset
Strip se cruzava com Buck Owens, doses parcimoniosas de Beatles e algum barroco
- só muitos anos volvidos seria devidamente avaliado / valorizado. Hoje a
história considera-o pouco menos que essencial.
Após mais uma falsa partida – o projecto de single “The
French Girl / Only Colombe” -, a Columbia entendeu que Gene Clark a
solo era inviável e deixou cair o contrato.
No entretanto
Clark escrevia canções: “I was writing
just to write during that period of time. There were two or three unrecorded
songs I wrote over that period, there’s a whole drawer full of them, so I have
no idea what I was thinking about, just images. I used to like to lock myself
in my house and just work for days on songs. I had a little recording setup in
one room, and I would go in and put them on tape.”
Os temas publicados em “Gene Clark Sings for you” datam
daquele período, e foram até agora uma espécie de “holy grail”, insanamente
procurado pelos fãs durante décadas a fio.
Na prática, demos gravados com o propósito de prospectar um
contrato, os oito temas recuperados do acetato original, são exactamente aquilo
que se esperaria de Gene, sobretudo do Gene da época: inspirados, sensíveis,
líricos, ainda que enquanto demos, naturalmente inacabados.
A informação sobrevivente é todavia escassa. Sabe-se apenas
que o piano Wurlitzer é da responsabilidade de Alex del Zoppo, então teclista
dos californianos Sweetwater. Quanto
aos demais componentes ( bateria, baixo, cordas ) não foi
disponibilizada informação.
Adicionalmente e de não menor relevância, “Sings for you”
inclui as seis demos que Clark gravou em acetato e ofereceu aos Rose Garden, uma jovem banda de Los
Angeles a quem o compositor terá confidenciado: “You do Byrds better than we ever did”. Duas delas, “Long Time” e “Till
today” acabariam por integrar o primeiro e único álbum do quinteto. As
restantes podem escutar-se agora através da interpretação espartana mas
inimitável do seu criador.
Nota: todas as citações acima incluídas foram
retiradas do booklet que acompanha a edição de “Sings for you”.