13/08/18

Gene Clark "Sings for You"



Gene wrote so damn many songs we just couldn’t even tape them all. He would come in with a notebook full of songs. And if you didn’t tape them quickly, he would forget what tune he wrote them to.” ( Jim Dickson, manager ).


É inevitável. Sempre que o Atalho regressa a Gene Clark, abre-se aquela gaveta da memória que dá acesso directo a Tim Buckley. Não que, para além de um desmesurado talento e de carreiras que lhes foram madrastas, os dois tenham muito mais em comum; não obstante a associação persiste. Buckley intitulou o seu terceiro álbum “Happy Sad” e, “triste / contente”, é quase sempre o estado de espírito presente, durante e após a audição das canções de Gene.

He was a very sultry, perplexed man. Very introspective. And he had this gloom around him – although I must say that he had a very sweet and charming side to him. But you never knew which side of him you were dealing with. He would be fine for a while, then he would get deeply, deeply depressed.” ( Michelle Phillips, The Mamas and The Papas ).

As canções, notáveis na esmagadora maioria, reflectem naturalmente a personalidade do autor. Aqui e ali são habitadas pelos demónios que atormentavam Gene desde que havia sido “expulso” dos Byrds, banda onde até então fora o principal e mais bem sucedido compositor.


Gene Clark with The Gosdin Brothers” o primeiro álbum a solo ( publicado em Fevereiro de 67 ), não foi o êxito que o compositor e a editora ( Columbia ) desejavam. Basicamente uma “anomalia” – onde o folk rock de Sunset Strip se cruzava com Buck Owens, doses parcimoniosas de Beatles e algum barroco - só muitos anos volvidos seria devidamente avaliado / valorizado. Hoje a história considera-o pouco menos que essencial.

Após mais uma falsa partida – o projecto de single “The French Girl / Only Colombe” -, a Columbia entendeu que Gene Clark a solo era inviável e deixou cair o contrato.

No entretanto Clark escrevia canções: “I was writing just to write during that period of time. There were two or three unrecorded songs I wrote over that period, there’s a whole drawer full of them, so I have no idea what I was thinking about, just images. I used to like to lock myself in my house and just work for days on songs. I had a little recording setup in one room, and I would go in and put them on tape.”

Os temas publicados em “Gene Clark Sings for you” datam daquele período, e foram até agora uma espécie de “holy grail”, insanamente procurado pelos fãs durante décadas a fio.

Na prática, demos gravados com o propósito de prospectar um contrato, os oito temas recuperados do acetato original, são exactamente aquilo que se esperaria de Gene, sobretudo do Gene da época: inspirados, sensíveis, líricos, ainda que enquanto demos, naturalmente inacabados.


A informação sobrevivente é todavia escassa. Sabe-se apenas que o piano Wurlitzer é da responsabilidade de Alex del Zoppo, então teclista dos californianos Sweetwater. Quanto aos demais componentes ( bateria, baixo, cordas ) não foi disponibilizada informação.

Adicionalmente e de não menor relevância, “Sings for you” inclui as seis demos que Clark gravou em acetato e ofereceu aos Rose Garden, uma jovem banda de Los Angeles a quem o compositor terá confidenciado: “You do Byrds better than we ever did”. Duas delas, “Long Time” e “Till today” acabariam por integrar o primeiro e único álbum do quinteto. As restantes podem escutar-se agora através da interpretação espartana mas inimitável do seu criador.

Nota: todas as citações acima incluídas foram retiradas do booklet que acompanha a edição de “Sings for you”.