Após mais de 15 anos de carreira, os trabalhos de Sharron Kraus já mereciam uma outra
atenção.
Quando as Joannas Newsom deste mundo ainda não tinham
decidido o que fazer à vida, já Sharron gravava discos seminais para a Camera
Obscura do saudoso Tony Dale ( “Beautiful Twisted” e “Songs
of Love and Loss” são, neste âmbito, particularmente impressivos e
ajudam a definir o que na altura se convencionou chamar de “weird folk”).
Pelo caminho colaborou com os Iditarod de Jeffrey Alexander, com Christian Kiefer e United Bible Studies. Em 2007 ao lado de Meg Baird e Helena Espvall publicou o bucólico “Leaves from off the tree”.
No ano seguinte, com a colaboração de Greg Weeks e Gillian Chadwick, editaria “Rusalnaia”.
Em “Joy’s Reflection is Sorrow” Sharron
experimenta novos caminhos. Distante está a paixão pelos Apalaches ou o
ruralismo de inspiração galesa a que os dois discos anteriores davam corpo.
Este novo álbum projecta um desafio, na justa medida em que
busca o compromisso entre as raízes folk de contornos vincadamente espartanos e
a sofisticação que a instrumentação electrónica proporciona ( curioso como “Figs and Flowers” faz recordar o “Broken English” de Marianne
Faithfull e "The Man who says Goddbye" remete para os Spriguns de Mandy Morton ).
Dito de outra maneira: o paradigma mudou. “Joy’s
Reflection is Sorrow” é um disco que necessita de tempo para ser
digerido. Porque, ainda que acolha as pequenas pérolas habituais na escrita de
Kraus, veste novas roupagens, muito próximas da interpretação que os Tremblig Bells fazem hoje do
folk embora prefira arranjos e formas mais subtis.
Nancy Wallace, outra das favoritas do Atalho, empresta a voz a alguns dos temas.