13/04/18

Bardo Pond "Volume 8"



Ao longo dos anos, a audição de milhares de álbuns e centenas de milhar de canções, ensinaram-me a poupar nos adjectivos porque, ao contrário do tempo – o mais assertivo crítico musical que conheço – os julgamentos in time são ou tendem a ser influenciados por estados de alma a que frequentemente se juntam factores exógenos que não controlamos.

Há semanas que estou de volta de “Volume 8”, procurando resistir à facilidade da adjectivação, fugir  à tentação da hipérbole, porque aqui, é bom que se diga, só aquela parece fazer sentido.

Tentei mas, admito, foi pura perda de tempo. “Volume 8” é absolutamente SUBLIME. Não existe outro termo.

Ainda que comparativamente a discos anteriores do quinteto de Filadélfia, o patamar tenda a ser alto, este novo opus prossegue e acentua a genial desconstrução sónica de tudo o que são os paradigmas do chamado neo-psicadelismo.

Dinamitando tudo à sua passagem, fundindo o que o possa ser, reinventando novas abordagens para conceitos velhos ( space,  avant–garde, stone, drone, psychedelic- rock ) em “Volume 8” a banda de Isobel Sollenberger e dos irmãos Gibbons constrói uma tapeçaria cósmica que tanto pode seguir os habituais padrões monolíticos -  o demolidor “Kailash” recupera as guitarras viciantes de ”Don’t know about you” em “Bardo Pond” ( 2010 ) – como subtilmente, à boleia das quase imperceptíveis harmonias vocais e flauta de Isobel,  entrar bucolismo adentro  - Power Children” ou “Cud” – em demanda do silêncio e serenidade pós apocalípticos.


Depois, bom depois, chega o monumento: “And I Will”. A convulsão extrema; as guitarras gerando espirais caleidoscópicas, percussão tonitruante, a voz de Isobel como um instrumento mais, soltando harmoniosamente palavras ininteligíveis e um baixo musculado a lutar para manter unidos os restantes elementos. Passaram exactamente 16 minutos e 58 segundos. Não se dá por isso.  

One of underground rock’s most extraordinary enigmas” escreveu a propósito dos Bardo Pond uma publicação da especialidade. Enigma coisa nenhuma. Para além do talento, trata-se apenas e tão só do mais genuíno e apurado bom gosto ( e se o leitor continua a acompanhar este texto e segue este espaço com regularidade tem-no seguramente ).

Com tantos “walking deads” à solta por aí, depois de um quarto de século de vida, os Bardo Pond serão provavelmente a única banda em actividade capaz de me levar de novo a uma sala de concertos.