Ao longo dos anos, a audição de milhares de álbuns e centenas
de milhar de canções, ensinaram-me a poupar nos adjectivos porque, ao contrário
do tempo – o mais assertivo crítico musical que conheço – os julgamentos in
time são ou tendem a ser influenciados por estados de alma a que frequentemente
se juntam factores exógenos que não controlamos.
Há semanas que estou de volta de “Volume 8”, procurando
resistir à facilidade da adjectivação, fugir
à tentação da hipérbole, porque aqui, é bom que se diga, só aquela
parece fazer sentido.
Tentei mas, admito, foi pura perda de tempo. “Volume
8” é absolutamente SUBLIME. Não existe outro termo.
Ainda que comparativamente a discos anteriores do quinteto de
Filadélfia, o patamar tenda a ser alto, este novo opus prossegue e acentua a
genial desconstrução sónica de tudo o que são os paradigmas do chamado
neo-psicadelismo.
Dinamitando tudo à sua passagem, fundindo o que o possa ser,
reinventando novas abordagens para conceitos velhos ( space, avant–garde, stone, drone, psychedelic- rock )
em “Volume
8” a banda de Isobel Sollenberger e dos irmãos Gibbons constrói uma
tapeçaria cósmica que tanto pode seguir os habituais padrões monolíticos - o demolidor “Kailash” recupera as guitarras viciantes
de ”Don’t know about you” em “Bardo Pond” ( 2010 ) – como subtilmente,
à boleia das quase imperceptíveis harmonias vocais e flauta de Isobel, entrar bucolismo adentro - Power Children” ou “Cud” – em demanda do
silêncio e serenidade pós apocalípticos.
Depois, bom depois, chega o monumento: “And I Will”. A
convulsão extrema; as guitarras gerando espirais caleidoscópicas, percussão tonitruante,
a voz de Isobel como um instrumento mais, soltando harmoniosamente palavras
ininteligíveis e um baixo musculado a lutar para manter unidos os restantes
elementos. Passaram exactamente 16 minutos e 58 segundos. Não se dá por isso.
“One of underground
rock’s most extraordinary enigmas” escreveu a propósito dos Bardo Pond uma publicação da
especialidade. Enigma coisa nenhuma. Para além do talento, trata-se apenas e
tão só do mais genuíno e apurado bom gosto ( e se o leitor continua a acompanhar
este texto e segue este espaço com regularidade tem-no seguramente ).
Com tantos “walking deads” à solta por aí, depois de um
quarto de século de vida, os Bardo Pond
serão provavelmente a única banda em actividade capaz de me levar de novo a uma
sala de concertos.