27/11/17

Randy Newman "Dark Matter"



Randy Newman foi, é e será único.

Desde há largos anos, talvez o herdeiro último da tradição musical Tin Pan Alley, Newman compõe lenta e minuciosamente, como um ourives. Publica quando tem algo de importante a dizer e não porque sim, como é hábito por aí.

Dir-se-á: as suas letras nunca atingirão o lirismo de um Dylan, a emotividade de Springsteen ou a iconoclastia de um Waits, mas em contrapartida são feitas de uma mordacidade sem limites. Nesse particular roçam a genialidade, sendo absolutamente cirúrgicas e eficazes. 

Atente-se em “A few words in defence of our Country” de há uns anos ou em “Putin” no recém editado “Dark Matter”. Aqui, os cerca de 8 minutos de “The Great Debate” poderão parecer excessivos, mas mesmo o mais conciso dos song-writers teria dificuldade em retratar a América do pré e pós Trump num tema mais curto.

Quanto a “Putin”: “… Putin puttin’ his pants on/One leg at a time/You mean he’s just like a regular fellow, huh?/He ain’t nothing like a regular fellow/Putin puttin’ his hat on/Hat size number nine/You sayin’ Putin’s getting’ big headed?/Putin’s head’s just fine…”, o próprio não deixará certamente de sorrir ante o humor subtil do retrato.

Os tocantes “Lost without you” e “She chose me” são olhares serenos sobre a vida, algo que só o actual  Newman poderia escrever. Dito isto, “Dark matter” inclui canções notáveis, mas carece de unidade. Musicalmente encontra-se perto de “Ragtime” e longe do genial  Sail Away”, mesmo até de “Good Old Boys” ou “Little Criminals”. Uma proximidade que os fãs seguramente prefeririam.