Asheville, encaixada num vale confinado ao sopé das Smoky
Mountains, é um dos lugares mais encantadores da Carolina do Norte.
Provavelmente a cidade americana com mais cervejarias e
galerias de arte per capita, transpira talento nas ruas geométricas e arrumadas, quase bostonianas de tão
europeias.
Um refúgio perfeito para artistas e criadores que encontram
ali uma sofisticação que o sul tradicionalmente conservador não privilegia. Sally Anne Morgan e Sarah Louise Henson são
autóctones. Multi-instrumentistas ambas, a primeira já veterana dos Pelt e Black Twig Pickers, Sarah dando os primeiros passos, optaram por
juntar os respectivos talentos e dar corpo ao projecto House and Land.
Construído em percentagens equilibradas de tradição e
experimentalismo, o álbum de estreia homónimo “House and Land”, é um
trabalho que não irá ser um êxito comercial, antes um daqueles discos de
músicos para músicos e que, como tal, prevalecerá para além da espuma dos dias.
Entre a vertente apalachiana, o finger-picking, o
impressionismo drone e as seculares melodias folk britânicas, “House
and Land” estabelece uma conexão perfeita entre o novo e o antigo,
nunca abdicando de uma hipnótica simplicidade que o torna verdadeiramente
especial.
Num tempo em que tudo é processado até à exaustão, Sally e
Sarah inventaram um disco minimalista nos adornos, que nos remete para as gravações
transgeracionais de Shirley e Dolly
Collins nos 70s ( a versão de “False True Lovers” não surge aqui por mero
acaso ).
Thom Nguyen ajuda nas percussões, mas são sobretudo as
prestações de Sarah ( voz, guitarra acústica e bouzouki ) e Sally ( voz, violino
e banjo ) que cativarão a atenção e sentidos daqueles que optarem por prestar
atenção a pequenas preciosidades como “The day is past and gone”, “Home over
Yonder” ou “Rich Old Jade”.