31/01/17

Terry Dolan "S/t"



A terminar 2016, o acaso ou um feliz alinhamento dos astros, permitiram a publicação de um conjunto de gravações inéditas que, em rigor, tinham tudo para o não serem. A mais extraordinária delas, porventura a grande redescoberta do ano - “Terry Dolan” -, esteve guardada nos arquivos da Warner Brothers desde 1972.

Natural do Connecticut, Terry Dolan começou por cantar nos clubes e cafés folk de Washington. Como muitos outros não demorou a mudar-se para São Francisco.  Insistiu no folk, mas as suas composições pediam outros voos. Conheceu a nata dos músicos californianos da época e quase sem dar por isso, os Country Weather eram a sua banda de suporte.

Em 1970 gravou duas demos. Uma delas, “Inlaws and Outlaws”, transformou-se num hit nas principais rádios underground da Califórnia. O público procurava nas lojas, mas não havia disco. Em 1971, a WB decidiu então financiar as primeiras gravações.


Concluído em duas fases, o álbum teve como produtores dois alquimistas – Nicky Hopkins e Pete Sears – curiosamente ambos ingleses, exímios pianistas e donos de invejável curriculum. John Cipollina, Greg Douglass, Neal Schon, Spencer Dryden e as Pointer Sisters juntaram-se-lhes. A edição foi agendada para Janeiro de 1973 mas, inexplicavelmente e sem razão aduzida, a Warner Brothers abortou o projecto.

Devastado, Dolan fundou os Terry & The Pirates, “a mais underground das bandas underground saídas de São Francisco”. Faleceu em 2012 sem nunca ter visto o sua maior criação publicada. Impossível saber o que teria acontecido à carreira deste criador caso o álbum tivesse saído em tempo. Mas o brilhantismo dos temas, a qualidade superlativa das prestações musicais e o talento dos dois mágicos que o produziram, teriam certamente feito dele um dos clássicos da época. Chegou finalmente, 43 anos depois.