A terminar 2016, o acaso ou um feliz alinhamento dos astros,
permitiram a publicação de um conjunto de gravações inéditas que, em rigor,
tinham tudo para o não serem. A mais extraordinária delas, porventura a grande
redescoberta do ano - “Terry Dolan” -, esteve guardada nos
arquivos da Warner Brothers desde 1972.
Natural do Connecticut, Terry
Dolan começou por cantar nos clubes e cafés folk de Washington. Como muitos
outros não demorou a mudar-se para São Francisco. Insistiu no folk, mas as suas composições pediam
outros voos. Conheceu a nata dos músicos californianos da época e quase sem dar
por isso, os Country Weather eram a
sua banda de suporte.
Em 1970 gravou duas demos. Uma delas, “Inlaws and Outlaws”,
transformou-se num hit nas principais rádios underground da Califórnia. O
público procurava nas lojas, mas não havia disco. Em 1971, a WB decidiu então financiar
as primeiras gravações.
Concluído em duas fases, o álbum teve como produtores dois
alquimistas – Nicky Hopkins e Pete Sears – curiosamente ambos
ingleses, exímios pianistas e donos de invejável curriculum. John Cipollina,
Greg Douglass, Neal Schon, Spencer Dryden e as Pointer Sisters
juntaram-se-lhes. A edição foi agendada para Janeiro de 1973 mas,
inexplicavelmente e sem razão aduzida, a Warner Brothers abortou o projecto.
Devastado, Dolan fundou os Terry & The Pirates,
“a mais underground das bandas
underground saídas de São Francisco”. Faleceu em 2012 sem nunca ter visto o
sua maior criação publicada. Impossível saber o que teria acontecido à carreira
deste criador caso o álbum tivesse saído em tempo. Mas o brilhantismo dos
temas, a qualidade superlativa das prestações musicais e o talento dos dois
mágicos que o produziram, teriam certamente feito dele um dos clássicos da
época. Chegou finalmente, 43 anos depois.