26/12/14

Chris Forsyth & The Solar Motel Band "Intensity Ghost"



Há coisas que nunca mudam.
Ainda que rara, a conjugação entre o talento e o bom gosto, permanece uma combinação explosiva. Do norte-americano Chris Forsyth tem vindo a ser profusamente referida a aprendizagem com Richard Lloyd, logo a colagem à arquitectura e ao paradigma Television.
Mas, sendo o estudo dos clássicos meritório e francamente aconselhável,  a linguagem do guitarrista de Filadélfia está muito longe de habitar apenas o edifício sonoro construído por Tom Verlaine e Lloyd. Não existisse por ali talento e gosto irrepreensíveis e “Intensity Ghost” não seria nunca aquilo que é.  Um tremendíssimo disco de guitarras, escorado na tradição é verdade, mas simultaneamente irrequieto e dinâmico como se resultasse de uma daquelas inspiradas e irrepetíveis “late night jam sessions”.

Solar Motel” de 2013 já dizia ao que vinha, porém de “Intensity Ghost” emana uma “intensidade” e um lirismo que não raras vezes atinge patamares épicos. E não é fácil nos tempos que correm encontrar uma colectânea cujos primeiros três temas possuam a dimensão arrasadora de “Tha Ballad of Freer Hollow”, “Yellow Square” ou “I ain’t waiting”.
O primeiro, uma longa jam de 11 minutos, evolui sobre uma tapeçaria tricotada pelas guitarras gémeas de Paul Sukeena e Chris Forsyth que, em conjunto, obrigam a secção rítmica a um esforço sobre-humano para que nenhum detalhe ou subtileza se perca. O hipnótico “Yellow Square”, sediado na fronteira do hard-blues, tem dentro a mais inesquecível slide-guitar desde Lowell George e, quando se pensa que o zénite já foi atingido, eis que “I ain’t waiting” surge cósmico, atmosférico, para ir crescendo em intensidade e lirismo até se transformar num sublime mini épico vestido por  texturas simples mas convincentes.
Há muito que não se escutava nada assim.