11/02/14

Cian Nugent & The Cosmos "Born with the Caul"


Cian Nugent vem de Dublin, transparece da sua música, mas integra sem esforço a cena musical que se norteia pela herança musical da Takoma Records e que nos anos mais recentes  teve como principal guru o saudoso e excessivo Jack Rose.
Born with the Caul” o cd que Nugent acaba de publicar com The Cosmos é pouco menos que uma delicia. Formalmente integra apenas três temas ( o mais curto com 6m e 30s ), mas é um daqueles discos que quando se escutam, fazem parar os ponteiros do relógio.

A abrir,  “Grass above my head” é um espaço solitário. A guitarra introspectiva de Cian aguarda pelos restantes Cosmonautas; estes uma vez chegados, transformam o tema num folk-blues o qual, percebe-se, está ali apenas para aquecer os motores, preparando o que vem a seguir.
“Double Horse” principia acústico, mas a guitarra de Nugent  rapidamente abandona o finger picking para se mirar no espelho reflector dos acordes iniciais de “The End”. E por entre o serpentear de uma guitarra Robbie Krieger em silencioso crescendo, damos por nós à espera que a voz de Jim Morrison irrompa das colunas e a ferocidade das palavras nos venha de novo inquietar. Soberbo.

Mas não tanto quanto os 23m e 20s que dura “The Houses of Parliament”. Dir-se-ia que as guitarras angulosas de Richard Lloyd e Tom Verlaine decidem aqui conflituar com os sons caleidoscópicos arquivados no tempo por Bob Weir e Jerry Garcia. Television cruza-se com Grateful Dead. E “Dark Star” como que regressa elegante, abrasivo e psicadélico até às entranhas. Como sempre foi.