Cian Nugent vem de Dublin, transparece da sua
música, mas integra sem esforço a cena musical que se norteia pela herança musical
da Takoma Records e que nos anos mais recentes teve como principal guru o saudoso e excessivo
Jack Rose.
“Born with the Caul” o cd que Nugent acaba de publicar com The
Cosmos é pouco menos que uma delicia. Formalmente integra apenas três temas ( o
mais curto com 6m e 30s ), mas é um daqueles discos que quando se escutam, fazem
parar os ponteiros do relógio.
A abrir, “Grass above
my head” é um espaço solitário. A guitarra introspectiva de Cian aguarda pelos
restantes Cosmonautas; estes uma vez chegados, transformam o tema num folk-blues
o qual, percebe-se, está ali apenas para aquecer os motores, preparando o que
vem a seguir.
“Double Horse” principia acústico, mas a guitarra de
Nugent rapidamente abandona o finger
picking para se mirar no espelho reflector dos acordes iniciais de “The End”. E
por entre o serpentear de uma guitarra Robbie Krieger em silencioso crescendo,
damos por nós à espera que a voz de Jim Morrison irrompa das colunas e a ferocidade
das palavras nos venha de novo inquietar. Soberbo.
Mas não tanto quanto os 23m e 20s que dura “The Houses of
Parliament”. Dir-se-ia que as guitarras angulosas de Richard Lloyd e Tom
Verlaine decidem aqui conflituar com os sons caleidoscópicos arquivados no
tempo por Bob Weir e Jerry Garcia. Television cruza-se com Grateful Dead. E
“Dark Star” como que regressa elegante, abrasivo e psicadélico até às entranhas.
Como sempre foi.