26/08/13

Bob Dylan "Another Self Portrait"


Nunca entendi o motivo do desconforto dos dylanófilos perante “Self Portrait”. Talvez a carga negativa que lhe foi colada à pele pelo cepticismo crítico de Greil Marcus na Rolling Stone de  Junho de 1970, explique alguma coisa. Não certamente tudo.

Antes e sobretudo depois, Dylan produziu discos bem mais inconsistentes  e negligenciáveis. Ninguém pareceu incomodar-se.  Bringing it all back home”, “Highway 61 revisited ( 1965 ) e “Blonde on blonde  ( 1966 ) seriam irrepetíveis. É verdade. Mas “Nashville Skyline” ( 1969 ) apesar de a lendária “Lay Lady lay”, já dava mostras de abrandamento do processo criativo e da busca de alternativas. O acidente de mota e o retiro perto de Woodstock funcionaram como leitmotiv para o novo Dylan, consolidando-o. Menos socialmente interventivo, mais perto do ruralismo e da tradição americana.

Daí que “Self Portrait” deva ser enquadrado nesta realidade. É desequilibrado? Iconoclasta, Presleyiano? É. Mas é ao mesmo tempo um laboratório de experiências sonoras e não será melhor nem pior que “John Wesley Harding”. Diferente, talvez. “All the tired horses” por exemplo, é enorme em qualquer formato cinemascope ( recordo-me de ter ficado encantado a primeira vez que escutei aquelas vozes pairando sobre o tapete do órgão, cortesia de Al Kooper ); “Alberta”, “Days of 49”, “The boxer” ou “Take a message to Mary” são do melhor que o autor poderia escrever naquelas condições particulares. E o álbum seguinte, “New Morning”, acabaria por confirmá-lo.

Another Self Portrait”, uma compilação de demos e outakes que sobraram das sessões de gravação do álbum original, bem como de “New Morning”, foi hoje publicada. Ao escutá-la, percebe-se quão desajustadas terão sido as críticas da altura. Contudo a reavaliação está feita. E fica melhor assim ...