24/10/12

"L' Oreille d' un Sourd" Philippe Garnier


J’ai beau connaître les statistiques (il n’y a que trois autres États plus grands que le Montana, quarante et unième à rejoindre l’Union; et à peine 700 000 habitants sur un territoire si vaste ), le Montana reste pour moi une  paysage mental. Un État dans ma tête. Les livres m’y ont amené. Les livres anciens, bien sûr, comme les carnets de voyage de Lewis et Clark, ou le merveilleux livre d’ Andrew Garcia, Tough Trip Through Paradise. Mais ceux qui m’y ont vraiment amené sont mês contemporains, des écrivans qui ont entre vingt et quarente-cinq ans. À la fin des annés 70, le Montana est devenue une sorte d’alternative oxygénée à Key West, à Martha’s Vineyard ou à Taos pour les artists américains …
Montana, Philippe Garnier, Rock & Folk, Janeiro 1982.

Já o escrevi aqui no Atalho. Philippe Garnier é uma inspiração!
Não  foi por sua causa que comecei a alinhar as palavras. O apelo já existia.  Mas foi sem qualquer dúvida o grande responsável por eu não ter desistido.

Através de uma narrativa escorreita, mas pincelada por detalhes e repleta de factos histórico-culturais, o autor colocou-me na rota de um sem número de escritores ( Jim Harrison, Thomas McGuane, Rick Bass, Larry Watson, James Cain, David Goodis, James Salter, Larry Brown, John Fante, William Burnett … ), de estatura diversa embora todos de inegável talento. Explicou-me Sam Peckinpah e Wim Wenders como nenhum outro o fizera até ali; apresentou-me a André Toth; falou-me de Dashiel Hammett e de Bogart, de Warren Oates e  Dennis Hopper, de Mitchum e Coppola… De Capra. E de …
 
Na música, esteve sempre perto do que realmente importava na época em que despachou para a Rock & Folk.  Wall of Voodoo, Cramps, X, New York Dolls, Gun Club, Tom Petty, Fleshtones, Dream Syndicate, Rain Parade …. Um manancial de informação inesgotável, à espera de ser tratada e devidamente absorvida. Assim o interesse existisse.

L’Oreille d’un Sourd, L’Amerique dans le Rétro, 30 ans de Journalisme” é uma compilação de artigos publicados maioritariamente no Libération , periódico que o acolheu  desde os anos 80 até meados de 2009 ( “En mars 2009, on m’a signifié qu’il n’y avait plus de place pour moi à Libération. On n’ essaiera pas ici de feindre d’ignorer ce détail, ni les sentiments qu’il inspira sur le coup, aprés vingt-huit ans de collaboration” ).  Déjà vu ?
E, ao longo de 550 páginas,  sob a figura tutelar do mítico Nick Tosches,  é um deleite rever esta escrita jornalística, simultaneamente  simples e erudita, debruçada sobre o cinema, a literatura, a arquitectura, a música, a tradição,  ... a cultura enfim.  Apaixonante e (in)formativa, sempre.

Pela minha parte gostaria de ter visto aqui incluídos alguns dos textos publicados na Rock & Folk ou nos Inrockuptibles. Mas ainda assim, como nunca nada pode ser absolutamente perfeito, tal como está, “L’Oreille d’un Sourd”,  é mais do que poderia desejar como companhia  para os finais de tarde sombrios que se aproximam.