18/09/12

MONO "For my Parents"


Ali, à saída da adolescência, a juventude é habitualmente um espaço onde florescem arrogância e preconceitos vários, alguns de natureza quase tribal. Comigo não foi naturalmente diferente.

Em concreto, hoje lamento não ter na devida altura prestado atenção a bandas e artistas, fulcrais no seu tempo, mas cuja atitude e forma exibicionistas a par de uma massiva adesão por parte do público, “valorizei” mais que o respectivo conteúdo. Black Sabbath e Led Zeppelin são apenas dois dos vários casos.  Mas há mais. “Tubular Bells” por exemplo.

Quase 40 anos depois e muitos kms de vinilo percorridos, olho para o épico de Mike Oldfield de uma forma totalmente diferente. Já não é apenas um mastodôntico êxito de vendas, antes uma interessante peça musical, construída instrumento a instrumento, camada a camada, até desaguar num climax apoteótico, quase cinemático.

Vem tudo isto a (des)propósito do novo MONO, “For my parents”.  Hoje, o chamado “post-rock” é quase tão polémico quanto o foi todo o movimento  que gerou peças como “Tubular Bells”, contudo não me parece que a sublime música criada pelo colectivo de Tokyo possa (deva) ser enclausurada num qualquer colete de forças estético que obrigatoriamente a menorizaria e tornaria redutora.

Goste-se ou não, a música dos MONO é algo de grandioso – bigger than life – possui um lirismo e um sentimento que não se compaginam com o estereotipo musical contemporâneo, por mais alargada e esforçada que a busca possa ser. As respectivas prestações de palco são algo de verdadeiramente especial, momentos únicos que “dão sentido à vida” de quem a elas assiste. Se o quarteto voltar a Portugal aproveitem para tirar as dúvidas…

No entretanto investiguem as cinco peças que integram “For my parents” e imaginem um horizonte cinemático, longínquo, preenchido por uma música tão bela como comovente. Música clássica no puro sentido epistemológico do termo, onde a emoção e o sentimento caminham lado a lado com a criação e o talento dos artesãos (Taka Goto, Takada, Tamaki e Yoda ).

E sinceramente, embora gostando muito  de “Hymn to the Immortal Wind”, pouco me importa que o registo anterior possa ser considerado um trabalho mais sólido/consensual. “For my parents” é um projecto construído em cinemascope, enorme, com todo glamour e magia inerentes. E seja de “Legend”, “Nostalgia”, “Dream Odyssey”, “Unseen Harbour” ou “A quiet place”, indiferentemente, brota de qualquer um daqueles temas, um sentimento e uma atmosfera de quase religiosidade que, aqui sim, aconchegam o espírito e alimentam a alma.

E de “For my parents” fica o essencial. Tudo o resto serão tergiversações de carácter estético, academicamente interessantes, mas redundantes face ao que está verdadeiramente em causa: os SENTIDOS.