18/08/12

Can "The Lost Tapes"


Até há pouco tempo nenhuma colecção estaria completa sem um, dois ou mais, discos dos Can. Após a publicação de “The Lost Tapes”,  nenhuma colecção ficará completa sem este.

Quando, em 1980, escutei “My life in bush of ghosts” pela primeira vez julguei estar na presença de algo diferente e inovador. 30 anos volvidos e muitos álbuns dos Can depois, olho para a colaboração Brian Eno/David Byrne, como algo de realmente diferente. De inovador nem tanto.

À data, do colectivo de Colónia conhecia apenas “Soon over Babaluma” ( 1975 ) um registo pigmeu, quando comparado com álbuns como “Tago Mago”, “Ege Bamyasi” ou “Future days”.  Com efeito, no período compreendido entre 1968 e 1973, os Can terão sido um dos mais criativos grupos continentais, bordejando simultaneamente o rock, o clássico, o avant-garde,  o (free)jazz e as músicas oriundas de África e do Médio Oriente. E, não me estou a esquecer que na Alemanha da época floresciam o krautrock e a kosmische musik, linguagens onde as idiossincrasias da banda de Irmin Schmidt e Holger Czukay nunca encaixaram verdadeiramente.

E a este respeito, para dissipar qualquer dúvida,  retorne-se  a  The Lost Tapes”. Para o efeito, bastará escutar os 16 m e 46 s que dura “Graublau”, um tema que quase faz soar a Procol Harum os dois primeiros álbuns dos Roxy Music.

A edição é composta por 3 CDs compilados a partir de 50 horas de fitas retiradas aos arquivos da banda. São cerca de 3 horas de material nunca publicado e cuja qualidade e pioneirismo são inquestionáveis. Fragmentos de peças pensadas/improvisadas para filmes, televisão, rádio, jam-sessions, gravações ao vivo … etc, “The Lost Tapes” não são, como se percebe pelo que atrás fica dito, propriamente fáceis de ouvir/assimilar. Todavia tal como a generalidade da discografia Can localizada entre 1968 e 1975, exemplificam aquilo que de mais moderno e radical se produziu na música europeia da época e que, alguns anos mais tarde, nos 80s, viria a inspirar diversas sonoridades, umas ilustres e perenes, outras nem por isso.

Indispensável será o adjectivo a aplicar aqui.