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Nos últimos 20 anos Nick Saloman dinamizou um conjunto de projectos que se revelaram fundamentais para o renascer do psicadelismo enquanto paradigma musical. Desde logo com Phil McMullen foi um dos fundadores do mítico Ptolemaic Terrascope, uma fanzine que mudou por completo a forma como o psicadelismo e linguagens limítrofes eram vistas nos anos 80 no Reino Unido e não apenas.
Regressado do passado, o psicadelismo passou a ser olhado como algo de contemporâneo, perene, e a ponte entre as heranças sixties californiana e inglesa foi de novo estabelecida, mas desta vez com passagens activas pelo pós-punk, krautrock e pelo paisley underground. Ou seja, uma estética considerada passadista ganhou contornos de modernidade e o número de bandas que nasceram e cresceram à sombra da fanzine atingiu proporções inimagináveis. 20 anos volvidos, os ecos ainda andam por aí. E a editora Woronzow que Saloman também criou não é estranha a todo este processo.
Mas uma contribuição tão ou mais importante terá sido a criação do projecto The Bevis Frond. Neste capítulo, o que ficou para trás é já histórico. O que está pela frente é no mínimo empolgante. “The leaving of London”, por exemplo . A mudança física da capital para o East Sussex, funcionou como catalisador criativo e, aos ouvidos do Atalho, “The leaving of London” pode muito bem ser um dos melhores registos do grupo.
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Os “compagnons de route” (Adrian Shaw e Dave Pearce) estão lá como sempre, a voz tão “next door” com Costello quanto possível também, mas o “song-writing” atingiu um patamar superior. Ora bordejando o psicadelismo inglês dos 80s (que também ajudou a fazer ), ora cortejando o “paisley underground” e/ou “desert rock” americanos ( e quanto a este último, não deixa de ser assombrosa a comunhão espiritual e criativa com esse outro deserdado da sorte que dá pelo nome de Rich Hopkins, mais famoso e reconhecido na Alemanha que em Tucson, a sua terra natal ).
Para que não restem dúvidas: “The Leaving of London” é de escuta obrigatória. Dos 18 temas , atrevo-me a salientar “Johnny Kwango” ( aquela abertura radiofónica da voz em off “Everybody has a favourite tune, is this yours?”, liquidou-me de imediato ainda não estava no ar uma única nota musical ), as guitarras de “An old Vice”, o tema título, “Testament”, “Preservation Hill” e “Too Kind” que, em palco, deverá ser algo de absolutamente avassalador. Caso o orçamento só vos permita comprar um CD por mês, já sabem o que têm de fazer.
Nota: já agora, os Bevis Frond peregrinam pela Europa em concertos dispersos. Não haverá por aí ninguém que lhes possa estender uma mão portuguesa?