25/10/11

Glenn Jones "The Wanting"



Há um par de anos, guiado pelo instinto, decidi assistir a um concerto de Glenn Jones. A muito custo, serpenteando por entre dezenas de sombras penduradas em copos de cerveja, lá consegui atingir o “aquário” da Zé dos Bois. Chamou-me a atenção um indivíduo, o único que não tagarelava, que metódica e geometricamente ia colocando cadeiras diante do palco. Quando terminou esta operação, mandou sentar toda a gente, subiu ao palco e começou a tocar. Foi um dos concertos mais simples e brilhantes a que assisti até hoje.



Tal como John Fahey e Robbie Basho no passado, ou Jack Rose e James Blackshaw no presente, Glenn Jones não é um músico de massas, antes o que habitualmente se designa por “musician’s musician”.



Depois de durante anos ter liderado o projecto “avant-psych” Cul de Sac, Jones concentrou-se na guitarra acústica e no banjo, optando por seguir o rasto dos “american primitives”; um movimento que nasceu há décadas em redor da editora Takoma Records ( propriedade de John Fahey ) e que para além deste incluía entre outros nomes como Basho, Peter Walker, Leo Kottke ou Peter Lang.





The wanting”, o novo registo de Glenn Jones segue o trilho dos anteriores, revelando-se um magnífico patchwork acústico, onde a aparentemente simples construção musical dos temas e melodias tem por trás uma complicadíssima teia estrutural que a cada momento nos hipnotiza e simultaneamente encanta.



Não é fácil encontrar palavras para descrever a genialidade contida no tema de abertura “A Snapshot of Mom, Scotland, 1957”, da mesma forma que descrever a sensação de movimento harmonioso que “The Great Pacific Northwest” sugere, também está longe de o ser. “Of its own kind” é outro tema que nasce introspectivo, lento, e vai ganhando um ritmo percussivo à medida que cresce. De tal forma encantatório que os seus 7m e 24s de vida passam num ápice.



E por entre estruturas cuidadosamente inventadas e melhor executadas, “The wanting” vai crescendo, crescendo, até atingir o clímax com o absolutamente extraordinário “The Orca Grande Cement Factory at Victorville”, 17m e 47s cósmicos onde a por vezes frenética guitarra acústica de Jones, galopa por cima dos obstáculos que a bateria de Chris Corsano vai ocasionalmente deixando no percurso, armadilhando-o.



Apesar da interminável crise e claustrofobia social em que o mundo ocidental se encontra mergulhado ( ou talvez por causa delas ) a produção de 2011 tem sido excepcional. “The wanting” é apenas mais um capítulo e a prova disso mesmo.