O design e iconografia que faziam as capas dos velhos vinis diziam-me muito sobre a música que envelopavam ( isto apesar de muitos designers afirmarem que na maior parte dos casos criavam as capas ouvindo pouco ou nada da música ). São inúmeros os discos que escutei baseado naquela asserção. Uma crença/treino que ficou e que ainda hoje funciona.
“Family favourites” por exemplo. Uma observação atenta à capa ( um quadro familiar de autor desconhecido, de acordo com a informação da contracapa ), deixa perceber que a música tem de ser serena, atenta, familiar, algo intimista … A não ser assim a contradição seria evidente.
E de facto, a música de The Big Eyes Family Plays, escrita ao longo dos anos por James Green para a banda de Shefffield, é feita de serenidade, tempo, bucolismo e alguma nostalgia.
Predominantemente acústico, "Family favourites” é uma colectânea de temas já conhecidos, devidamente rearranjados para o efeito. E, desde a melancolia balcânica de “Amateur dramatics” ou “The Chattering Lady”, à nostálgica sofisticação de “The Boo Girl”, ao ruralismo de “Jack”, até ao intimismo antigo de “Otto” ( aquele violino fica a pairar no ar durante horas ), todo o lado A do vinil é um triunfo do talento e simplicidade discursivos sobre as “over productions” hoje e sempre tão valorizadas.
O lado B alinha pela mesma bitola. “Fast loose and Lovely” destaca-se naturalmente e, talvez não por acaso, recordou-me os Saint Joan desse maravilhoso e negligenciado álbum que se chama “The Wrecker’s Lantern” ( 2007 ). “For Gorecki” é por seu lado uma tapeçaria de subtileza instrumental que nos leva pela mão até “Lewis”, a etapa final onde uma vez mais o violino ( Katherine Jackson, Ellie Maxwell ) permanece em suspenso muito tempo depois de o tema terminar.
“Family favourites” é porventura mais daqueles discos que HOJE ninguém vai ouvir. Não obstante, e para memória futura, o registo do Atalho fica feito. O tempo encarregar-se-á do necessário esclarecimento.
