A chamada “ambient music” funciona como uma espécie de albergue espanhol que serve para tudo acomodar. O que se sente, o que não se sente, e tudo o resto: o que não se sabe muito bem onde guardar. Trate-se da “music for airports” de Brian Eno, da “kosmische musik” germânica, da “lounge music”, da “elevator music”, de algumas das franjas da música de vanguarda …, whatever.
O Atalho tem um fraquinho pela música feita de grandes paisagens cósmicas ( “kosmische musik” se quiserem, e apenas para afastar o chavão “ambient” ) e respectivos sucedâneos onde, salvo melhor opinião, os norte-americanos Stars of the Lid se enquadram.
Em licença sabática dos Stars, Adam Wiltzie reuniu-se com o compositor Dustin O’Halloran e em conjunto deram corpo ao projecto A Winged Victory for the Sullen ( o nome em si mesmo é já peculiar), cujo CD de estreia circula já por aí.
De uma beleza indescritível, embrulhado em delicados mantos de lirismo, o álbum homónimo da dupla Wiltzie/O’Halloran alimenta-nos o espírito, transporta-nos para paisagens inóspitas e a mim, particularmente , convocou-me as mais gratas memórias de Brian Eno , Klaus Schulze, Pink Floyd ( período 1968 / 1971 bem entendido), Windy & Carl, Hammock, Eluvium e, naturalmente, Stars of the Lid. Constituído por sete peças instrumentais, “A Winged Victory for the Sullen” é um daqueles projectos onde é difícil colocar as palavras certas, sendo que cada um “de per si”, de acordo com a respectiva sensibilidade, experiência e/ou memória, o sentirá de outra forma. “Beleza sensorial” será porventura a mais consensual das imagens que me ocorre neste momento. Quem sabe amanhã ou depois, a emoção despoletada não seria de índole diversa. Não deixem de procurar escutar … Em silêncio!