03/06/11

"Delta Swamp Rock"



Apesar do subtítulo deste blog referenciar o folk e o psicadélico como os sons de eleição, o Atalho nunca escondeu um fraquinho pelo “southern rock” e com todo o seu cortejo de “mavericks”, “hobos”, “outlaws” e “loosers” vários. Da mesma maneira que aprecia e recomenda a literatura sulista ( com maior ou menor pendor gótico ), sobretudo através de Faulkner, Caldwell, Flannery O’Connor, Carson McCullers ou Tennessee Williams.


Por esta altura, imagino que aí desse lado a pergunta seja: e o que tem isto a ver com “Delta Swamp Rock”? Tem tudo, ou quase.


A colectânea, tal como o respectivo subtítulo ( “Sounds from the South, at the Crossroads of Rock, Country and Soul” ) deixa perceber, coloca o enfoque na música do sul dos EUA, exactamente no seu período mais fecundo, entre 1968 e 1978.



Aqui é recuperado grande parte do que à época foi musicalmente importante naquela latitude. As duas maiores bandas sulistas da história ( Allman Brothers e Lynyrd Skynyrd ), “outlaws” devidamente certificados ( Johnny Cash, Waylon Jennings ), “mavericks” “à la carte” ( Leon Russell, Tony Joe White, Dan Penn ), “country ladies” ( Linda Ronstadt, Bobbie Gentry ), personagens cujo percurso futuro gostaríamos de não ter conhecido ( Cher ), outras que lamentamos terem perdido o fulgor inicial ( Boz Scaggs, Barefoot Jerry, Cowboy ), ou pérolas do power pop como os inimitáveis Big Star.






Implícita ou explicitamente , o espírito do sul atravessa a compilação por via do sugerido pelos sons, textos e atmosferas das canções. Nesse particular, “Delta Swamp Rock” é um excelente pretexto para regressar a uma música, literatura e até a um cinema ( estou a lembrar-me por exemplo do fabuloso “Southern Comfort” de Walter Hill ) absolutamente diferenciados (não estou certo se ‘desalinhados’ não seria o termo mais adequado ).


Para muitos nada disto será novidade. Para os restantes, constitui uma oportunidade de ouro ( a compilação é excelente também nos títulos escolhidos e os detalhes históricos do booklet factualmente rigorosos ) para descobrir uma cena musical e um nicho da cultura americana que nem sempre têm sido tratados com muita simpatia por quem se encarrega de escrever a história.


Sem “parti-pris” ou juízos de valor reféns do “politicamente correcto” ( uma expressão tão ou mais odiada aqui pelo Atalho como o famigerado “alegadamente” das TVs ), mergulhem neste capítulo da história, descubram como nasceram e foram importantes editoras como a Capricorn Records ou a Stax e estúdios como Muscle Shoals Sound por exemplo.


Se esta colectânea cumprir a função que lhe está inerente, arrisco afirmar que não levará muito tempo até que estejam a procurar os clássicos dos Allman Brothers, as verdadeiras bombas rockeiras dos Skynyrd, o pop delicado dos Big Star ou os discos que Linda Ronstadt gravou com os Stone Poneys.


O Atalho não precisava de ser convencido, mas está deveras deliciado.