Permitam-me que coloque a coisa nestes termos.
Até há pouco tempo, o meu top de bandas inglesas contemporâneas era constituído por Mugstar, Teeth of the Sea e Wolf People. Nos últimos dias o pódio teve de ser abruptamente alargado para que nele coubessem os Dead Sea Apes.
Francamente já pouco me importa o que chamam a esta música: pré, pós-rock, neo- psicadélica, cósmica …, “whatever”. O facto é um e apenas um. Este EP com as suas três variações do tema “Soy Dios” ( inspirado em “El Topo” um western de culto mexicano datado de 1970 ), inclui a mais visceral música instrumental que me foi dado escutar no últimos tempos.
A primeira audição de “Soy Dios I” deixa-nos sem palavras. A forma como o tema nasce e cresce muito para além do geométrico, com a guitarra de Brett Savage a atingir patamares sensoriais absolutamente extraordinários, o baixo nos limites da saturação e a bateria como que rolando por cima de tudo o que de bom o mítico Ed Cassidy ( Spirit ) nos deixou, é algo de muito pouco comum nos tempos que correm.
“Soy Dios II” evolui a partir do órgão Pink Floyd de “Ummagumma”, adquire uma dimensão cinematográfica e espalha pelo ecrã da nossa mente um turbilhão de mensagens que tanto podem ter tido origem em “Obscured by clouds”, “Twelve dreams of Dr. Sardonicus” ou numa “jam-session” dos Airplane, num daqueles dias em que Jack Casady estava com a corda toda.
O terceiro e último trecho opta pela versão cósmica do tema; uma adaptação inebriante, também ela peculiar e que irremediavelmente nos atira para os braços de Popol Vuh ou Cluster.
Os Dead Sea Apes – Brett Savage, Nick Harris e Chris Hardman -, chegam de Manchester e, ou muito me engano, ou “Soy Dios” é apenas o inicio de uma bela amizade.