07/01/11

Jardins do Paraíso XXIV ( Morly Grey )


Ao longo dos anos, a reputação do álbum “The only truth” precedeu-o. Muitos falavam dele embora muito poucos o tenham escutado. No inicio da década anterior, uma reedição italiana não autorizada, acalmou o frenesi. Relativamente. Porém, só agora, por via da inefável Sundazed estamos verdadeiramente em condições de perceber as razões que potenciaram o mito.

Com origem em Alliance no Ohio, Morly Grey nasceu das cinzas de combos como Chads, Popcorn Treaty ou Rust. Cresceu numa espécie de “no man’s land”: a fronteira que então separava o velho psicadelismo 60s de um heavy-rock temperado por longas jams e matizado por tiques prog.

Não obstante a aparente dicotomia, “The only truth” revela-se um trabalho encantador; seja quando se expressa em linguagem folk-rock ou quando as guitarras de Tim Roller se colam ao heavy puro e duro. A simbiose entre as duas matrizes resulta na perfeição ( um caso raro ) e o charme do álbum é evidente.



Publicado no final de 1972, “The only truth” foi gravado ao longo dos dois anos anteriores e inclui um conjunto de peças de antologia. Desde logo “Who can I say who you are” ( um exemplo do que foi escrito no parágrafo anterior ), mas também “I’m afraid” onde se cruza a dinâmica instrumental de Cold Sun com as guitarras Airplane período “Volunteers”, “A feeling for you” ( tudo o que recorde Quicksilver Messenger Service é bem recebido aqui no Atalho ) e o tema título, um épico com cerca de 17 minutos que revê o clássico “Johnny comes marching home” ao mesmo tempo que tenta lidar com a chaga do Vietname.

A presente reedição recuperou todas as fitas originais, facto que permitiu a inclusão de “None are for me”, “Come down” e “Love me”, três títulos que começaram por fazer parte do pré-alinhamento do disco mas que acabariam retiradas ( no caso da primeira a decisão deve ter sido tudo menos fácil ) face à extensão do tema título. Embora menos significativas, são também incluídas as duas canções que fizeram o único single da banda.

Por fim a clarificação de um facto que sempre intrigou quem observava a capa enquanto escutava o disco. De acordo com o baixista Mark Roller ( declarações constantes no booklet ) Morly Grey nunca teve qualquer inspiração de carácter religioso, pelo que o design de Carole Pavlich reproduzindo um ícone católico não tinha nenhum significado particular. A explicação vale o que vale, mas por mim, antes assim…