25/11/10

Bruce Springsteen "The Promise"


O álbum “Born to run” e em particular o tema homónimo, foram ( são ) a síntese perfeita e em formato “technicolor” das idiossincrasias e do legado de alguns dos meus heróis de sempre – Kerouac, Scorcese, Waits, Fuller, Malick, Ford, Dylan -; música maior do que a vida, estradas que morrem na linha do horizonte, pé na tábua e a recusa em fazer prisioneiros.

Mas se “Born to run” foi enorme e irrepetível, “Darkness on the edge of towntrês anos, muitos episódios e problemas depois, revela toda a essência de Springsteen, enquanto cronista da vida e do imaginário americanos dos 70s.

Mais de três décadas e de muitos discos volvidos, apesar de “The River”, “Nebraska” ou “The Ghost of Tom Joad”, não mudei de opinião. “Darkness” está acima de todos os outros, daí que por aqui “The Promise, The Lost Sessions: Darkness on the edge of town” tenha sido recebido com indisfarçável curiosidade.

As canções agora incluídas em “The Promise” foram escritas e gravadas entre 1975 e 1978, logo deveriam ter sido publicadas a seguir a “Born to run” e imediatamente antes de “Darkness”. Por vicissitudes várias, desde logo jurídicas , não o foram, tendo as respectivas fitas ( entre 50 e 60, o número varia consoante as fontes ) seguido directas para os arquivos, depois de escolhidos os 10 temas que fariam “Darkness”.



Algumas delas foram trazidas à superfície em discos posteriores do autor ou por via de nomes como Patti Smith, Pointer Sisters, Southside Johnny ou Gary U.S. Bonds, embora a grande maioria tenha permanecido na penumbra. Até agora!

Com frequência, os chamados “lost albums” bem como outras recuperações de arquivo, redundam em profundas desilusões. Não é todavia esse o caso de “The Promise”. As 21 canções que o integram faziam todo o sentido na época, tal como fazem todo o sentido hoje. Mais do que um elogio, trata-se de mera constatação.

Hits potenciais – “Rendezvous”, “Fire”, “Save my love”, “Because the night”, “Gotta get that feeling” – cruzam-se com os grandes épicos americanos – “Someday (we’ll be together)”, “The Brokenhearted”, “The Promise”, “Breakaway” -, e nesta viagem pelo mapa da América o ouvinte tanto pode dar de caras com Reed, Orbison ou Spector, como mergulhar no quotidiano de personagens que falam por Steinbeck, Mailer ou Waits.

E pouco importa se “City of Night” evoca “Walk on the wild side”, “Come on (Let’s go tonight)” mais não seja que “Factory” com outra letra ou ainda que “Racing in the Street 78” aparente ter perdido todo o romantismo quando comparada com a canção gémea de “Darkness”. No final tudo se resume a um único facto: com mais de 30 anos, “The Promise” é a melhor música que poderíamos escutar em 2010.