30/06/10

Seth Augustus "To the pouring rain"


Há por aí alguém que ainda se lembre de Tom Waits? Do genuíno, claro! Aquele para quem uma garrafa de bourbon ( vazia de preferência ) era quase tão importante como um piano; aquele cujas canções albergavam mais personagens à deriva que os livros de Kerouac. O Waits que escreveu “Closing time”, “Small Changes” ou “Foreign Affairs” claro, não o que passou a ser referido como “cool”, pontual editor de revistas como a “Mojo” ou, “porque fica sempre bem”, a ser citado por dá cá aquela palha, como naquelas deprimentes reportagens dos Telejornais deprimentes que a propósito de um qualquer acontecimento que fuja à normalidade, dão voz ao excitante testemunho de tudo o que se mexe num raio de 3 kms.

Pois bem, para os felizardos que ainda se lembram do Waits pré-Kathleen Brennan tenho boas notícias. O homem está de volta. Agora chama-se Seth Augustus Quittner, vive em São Francisco, anda pelos “late 40s” e fez recentemente publicar no mercado americano o primeiro álbum: “To the pouring rain”.

Não se atreve a rosnar “the piano has been drinking, not me” ( de resto não toca o instrumento ) mas, caso fosse um pouco mais jovem até poderia ter interpretado o papel de filho de Sam Shepard no fantástico “Don’t come knocking” ou quem sabe, inspirado Rickie Lee Jones a escrever a sequela de “Chuck E.’s in love”. De todo o modo Jarmusch, Wenders, Auster ou Scorcese, sagazes natos, já o devem ter debaixo de olho para logo que surja um guião a condizer, o colocarem na banda sonora.



Ok, estou exagerar um pedaço. O homem ainda não atinge a dimensão e excelência do Waits de “Nighthawkes at dinner” ou “Blue Valentine”. É muito mais influenciado pelo delta-blues e por essa via, próximo de Don Van Vliet e Mac Rebennack, mas no magnífico To the pouring rain” também veste a pele do “desolation angel”, por vezes do “frontier desperado”, como há muito não havia memória. Ainda que as “agências de comunicação” do meio tudo façam para nos convencer do contrário quanto frequentemente citam Seasick Steve, Johnny Dowd ou até Micah P. Hinson.

Espreitem o preguiçoso “Trickeries of the Great Emptiness”, deliciem-se com “Slim Sam”, arrepiem-se com a cavernosa vocalização de “Buffalo Eight”, espantem-se com o blues velvetiano que é “Tiny Little Head”…

Quando mergulharem em “To the pouring rain”, acreditem, o difícil vai ser saírem de lá vivos.