06/01/10

Chris Cacavas "Love's been discontinued"


Acompanho Chris Cacavas desde que os Green on Red publicaram um EP homónimo em 1982. Na época, já se percebia que o homem possuía mais e melhores recursos que Dan Stuart, o declarado líder do grupo. Os desenvolvimentos futuros – Stuart desapareceu dos radares e Cacavas projectou uma muito interessante carreira a solo -, provam-no inequivocamente.

De certa forma estou grato ao músico de Tucson. A dado momento da minha vida profissional, tive necessidade de percorrer diariamente cerca de uma centena de kms. Nessa altura, Cacavas e Rich Hopkins ( o último, um misto de maverick e filantropo, que terá inventado a melhor banda sonora que os desérticos céus do Arizona conheceram ), disputavam a aparelhagem áudio do meu carro. Dois conceitos muito peculiares de “road music”, diria.

Passados largos anos e escutados para cima de uma dezena de discos a solo, um criador de “road music”, é ainda como vejo Chris Cacavas.



Em “Love’s been discontinued”, a estrela polar continua a ser Neil Young ( como de resto sempre foi ), mas existe a latente preocupação de suavizar a sonoridade. O equilíbrio entre os principais protagonistas sonoros - guitarras ácidas e piano acústico -, constituía uma das principais imagens a emergir das canções de Cacavas. O desequilíbrio em favor da electrónica e a inclusão nos coros de uma significativa percentagem de sacarina, poderão não ser uma boa notícia para o futuro. Um detalhe que ainda assim não retira a “Love’s been discontinued” o encanto e charme “laid back”.

O álbum, inócuo ao princípio, cresce a cada nova audição. Está para “Junk Yard Love” ou “Six String Soapbox”, como “Harvest Moon” está para “Harvest”, ou “Greendale” e “Silver & Gold” estão para “American stars and bars” e “Zuma”. Sólido e consistente ainda que despido daquele carisma que outrora nos agarrava e tornava absolutamente dependentes.

Não obstante, um excelente disco para fazer quilómetros. Despreocupadamente.