20/11/09

Grant Hart "Hot Wax"



O tema repete-se, lamentável e ciclicamente. Artistas cujo talento é tão óbvio que só se consegue medir em carradas, persistem em passar ao lado de grandes carreiras.

Grant Hart por exemplo. Crescido no seio de um dos grupos mais decisivos dos anos 80, o ex-baterista dos Husker Du (cuja influência ainda não está verdadeiramente quantificada) tinha tudo para ser o Iggy Pop do “hardcore punk” americano. Contudo um conjunto de equívocos pessoais e artísticos, aliados a uma gestão desastrosa da imagem, fizeram de Grant Hart uma mera nota de rodapé, derrotado no seu próprio terreno por um Bob Mould menos repentista e claramente menos talentoso.



Hot wax”, o quarto registo solo ( depois de “Intolerance”, “Ecce homo” e “Good news for modern man”), possui apenas um reduzido conjunto de momentos onde a clarividência e a inspiração predominam. A saber: 1) “You’re a reflection of the moon on the water”, uma stoogiana peça de “fuzz-garage-rock” capaz de prender a atenção de qualquer amador do género; 2) “Barbara” um “sing-along track” construído por cima dos acordes de um piano minimalista; 3) “School buses are for children” uma balada formatada segundo os padrões de Nikki Sudden; 4) “California Zephyr”, embora a abordagem ao tema feita por Jay Farrar no recente e já aqui referido “One fast move or I’m gone” seja muito mais convincente. E é tudo, “I’m afraid”.

Em “Hot wax”, mais uma vez, falta aquele golpe de asa do Grant Hart dos Husker Du, quando no meio do caos e da cacofonia punk de Bob Mould, fazia emergir melodias que permaneciam no ar, muito tempo depois de os discos terem parado de rodar.

No fundo, por muito que custe ao Atalho (e custa muito), mais uma oportunidade desperdiçada.