“Jack Rose & The Black Twig Pickers” é o companheiro perfeito para juntar a “Barbecue Bob in Fishtown”, o mais recente de Glenn Jones já aqui comentado no Atalho.
Longe vão os tempos dos delírios atonais dos Pelt de “Empty bell einging in the sky” ou das florestas de ragas cósmicos que Rose protagonizou com Jason Bill em “Via St. Louis”. Hoje Jack Rose coloca o virtuosismo instrumental ao serviço da música tradicional americana. O “finger-picking” é o veículo, o “bluegrass” e o “appalachian” os enquadramentos.
De certa forma este registo com os The Black Twig Pickers - Mike Gangloff (Pelt, Spiral Joy Band ) , Nathan “Sean” Bowles (Spiral Joy Band) e Isak Howell - , apresenta-se como um trabalho versátil e diversificado, se comparado com os anteriores “Jack Rose” e “Dr. Ragtime & Pals”.
Maioritariamente constituído por temas tradicionais o disco sugere uma atmosfera absolutamente rural ( o “redneck” anda por perto ), sibilinamente definida quer pelo bluegrass de abertura (“Little Sadle”), quer pelo appalachian “Sail away ladies/I shall not be moved” que lhe sucede. “Hand me down my walking cane”, meio cantada meio rosnada, apenas confirma os territórios que já anteriormente delimitados.
“Soft steel Piston” introduz pela primeira vez o “slide picking” e a silhueta de Leo Kottke volta a perfilar-se na nossa memória, como se nunca se tivesse desvanecido. Um ambiente que se repete em “Some Happy day” onde uma sublime guitarra slide em glissando recebe a ajuda cúmplice da harmónica de Isak Howell.
“Revolt” e “Kensington Blues”, os dois únicos originais de Rose, miscigenizam as linguagens utilizadas nos temas anteriores e “Special Rider” concede algum espaço ao “country-blues” . Por seu turno, “Bright sunny South” tem aqui um tratamento muito diverso do que recebera em 2001 no álbum” Ayahuasca” dos Pelt.
Em síntese, este é um daqueles CDs que ao terminar nos compele a voltar ao inicio, sem nenhuma espécie de hesitação. Pela simplicidade dos meios e pela atmosfera que sugere. Também porque Jack Rose é hoje o instrumentista que se encontra mais próximo de Leo Kottke, depois do próprio Leo Kottke.