Até há pouco, o que se conhecia dos Mandrake Paddle Steamer resumia-se
a um single lendário ( “Strange Walking
man”, Parlophone, 1969 ) e a uns quantos bootlegs de fraca qualidade aúdio que
apenas serviam para alimentar um pequeno nicho de indefectíveis do psicadelismo
inglês dos 60s, em nada contribuindo para consolidar a boa reputação da banda.
“Pandemonium Shadow Show”, compila gravações inéditas e vem
finalmente colmatar uma lacuna que muitos
julgavam definitiva.
Nascidos e criados em Londres, naquele período musicalmente
rico em que o vento fazia a curva do psicadelismo versus progressivo ( 1968 –
1970 ) os Mandrake Paddle Steamer primeiro, Mandrake simplesmente depois, praticavam um misto dos dois estilos,
usando a abusando das guitarras fuzz, complementadas com extensos lençóis
sonoros, cortesia do mellotron e do órgão Hammond.
Subiram ao palco do festival da Ilha de Wight, tocaram em
eventos dos Pink Floyd, The Nice e Vanilla Fudge (
em 69 viram publicado apenas na Suécia “Sunlight Glide”, um single atípico e
melancólico que integrava a banda sonora do filme “Skottet” ), porém a promessa
de integrarem o catálogo da Harvest ( editora satélite que o grupo EMI/
Parlophone lançou à época para não perder o comboio do progressivo ) nunca se
concretizou.
Dizer contudo que, na sua generalidade, “Pandemonium Shadow Show”
é um lugar muito simpático de frequentar, mesmo para aqueles a quem o velho
estigma do progressivo provoca algum desconforto.
O tema título é construído por cima de um riff viciante,
decorado por coloridas harmonias a fazer recordar os Blossom Toes; “Solitair Husk”
e “The World Whistles By”, crescendo ambas a partir de rítmicas marciais às
quais é acrescentado um órgão “Vertigo” ( em espiral, entenda-se ),
posicionam-se a meio caminho entre os The
Nice, Atomic Rooster e os Floyd de Syd Barrett.
“Stella Mermaid” mantém o tom marcial adicionando-lhe a
vertente atmosférica de “More”. Em sentido contrário, “Doris
The Piper” e “Simples Song” ( as duas datadas de 1970 ) estão demasiado
próximas da auto-indulgência Emerson
Lake & Palmer para merecerem a posteridade.
Perspectivando: não é difícil entender por que razão estas
canções não foram publicadas. Na época em que foram gravadas, sons e projectos
similares pululavam como cogumelos outonais. À distância de cinco décadas
adquirem porém uma outra dimensão, quiçá importância. Históricas sobretudo.